Consoante dados recentes da Receita Federal, a União arrecadou mais de R$156 bilhões em abril deste ano; trata-se do maior valor, de mesma base mensal, da série histórica de apuração, iniciada em 1995. O expressivo numerário foi veiculado com festejos pelo governo central, sinalizando, supostamente, o início de consistente retomada do crescimento econômico nacional. Há, todavia, variáveis importantes que merecem ponderada análise e consideração.
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Objetivamente, a retomada da produtividade e a melhora do ambiente de negócios brasileiro é indiscutivelmente notícia positiva que deve ser saudada por todos aqueles que almejam o progresso e desenvolvimento brasileiro. O desafio está em dissecar o dado divulgado, analisando arestas ocultas que, em suas sombras, podem determinar a
antevisão de problemas futuros.
Aqui, destaca-se importante ponto focal sobre os efeitos inflacionários e sua correlação com o incremento arrecadatório. Em condições normais de temperatura e pressão, o crescimento econômico traz natural repercussão no montante tributário arrecadado, indicando o curso de momento virtuoso. Todavia, o aumento da arrecadação pode ser mero efeito monetário ilusório, proporcionado pela alta de preços por pressão inflacionária. Em tempo, não se diga que os números foram alvo de correção monetária, pois os índices podem ser escolhidos a dedo sem exata representação da inflação real do período.
Tais truques de indexação eram corriqueiros em épocas de desorientação econômica. E, como nem sempre o passado ensina, alguns erros podem se repetir. A inteligência sagaz de Mário Henrique Simonsen costumava dizer que a “inflação aleija, mas o câmbio mata”. Em ambas as vertentes, há sinais de alerta no ar, agravados com despesas públicas ascendentes.
Fonte: “Jornal do Comércio”, 06/07/2021
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