O Brasil fechou 2017 com a menor inflação em duas décadas, graças principalmente à queda dos preços dos alimentos. Segundo dados divulgados nesta quarta-feira pelo IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou o ano passado em 2,95%, menor taxa desde 1998 (1,65%) e a segunda menor da série histórica. O número ficou abaixo do piso da meta estabelecida pelo governo, que era de 3%. É a primeira vez que isso acontece desde que o sistema de metas foi implantado, em 1999. Em dezembro, o índice ficou em 0,44%.
Após alta de 8,62% em 2016, os preços de alimentos tiveram deflação de 1,87% no ano passado, o que foi fundamental para que a inflação ficasse abaixo dos 3%. É a primeira vez que o índice anual registra deflação de alimentos desde a implantação do Plano Real. O grupo respondeu por 0,48 ponto percentual do IPCA fechado. Isto é: se os preços desse grupo tivessem ficado estáveis, a inflação do ano passado teria sido de 3,43%.
Com o resultado, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, terá que enviar uma carta ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, explicando por que a inflação ficou tão baixa. A meta para 2017 era de 4,5%, com tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo. Ou seja, o IPCA deveria ter ficado entre 3% e 6%. O BC já precisou justificar o descumprimento da meta em outras quatro ocasiões (2001, 2002, 2003 e 2015), mas sempre porque a inflação ultrapassou o teto do limite, nunca o piso.
Analistas já esperavam resultado abaixo de 3%. A projeção do mercado para o índice estava em 2,8%, segundo pesquisa da Bloomberg. Os economistas consultados para o boletim Focus, do BC, tinham previsão semelhante, de 2,79%. A expectativa para 2018 é de que o indicador suba para 3,95%. A meta deste ano é a mesma do ano passado.
DEFLAÇÃO DE ALIMENTOS
A primeira deflação anual no preço de alimentos se deveu, principalmente, aos produtos consumidos em casa. Os preços de alimentos para consumo em casa caíram 4,85%, enquanto a alimentação consumida fora de casa avançou 3,83%.
O IBGE destacou o efeito da chamada safra recorde sobre os preços. Em 2017, a produção agrícola cresceu cerca de 30%. Com maior oferta dos produtos, os preços despencaram. O grupo responde por aproximadamente 25% do orçamento das famílias brasileiras.
Na prática, os alimentos reverteram as altas de preços de 2016. O feijão carioca, por exemplo, que havia ficado 46,39% naquele ano, recuou 46,06% em 2017. Já o açúcar cristal, que tinha subido 25,3%, registrou deflação de 22,32%. Nem todos os produtos eliminaram completamente o avanço de preços de dois anos atrás. O feijão-preto, por exemplo, o mais consumido no Rio, havia subido 78,05% em 2016, e caiu 36,09% em 2017. Essa diferença pode fazer o carioca ainda sentir no bolso o peso do produto na hora de fazer as compras.
A deflação dos alimentos ajudou a segurar as influências para alta de inflação em 2017. No ano passado, o brasileiro pagou mais caro pela energia elétrica (10,35%), pelo gás de botijão (16%) e pelos planos de saúde (13,53%) — este último foi o principal impacto para cima sobre o índice no ano. Com a nova política de preços da Petrobras e o aumento de impostos sobre combustíveis, a gasolina também ficou mais cara, subindo 10,32%.
115 REAJUSTES DE GASOLINA
Segundo o IBGE, de 3 de julho até 28 de dezembro (fim da coleta do IPCA de dezembro), foram concedidos 115 reajustes nos preços da gasolina, acumulando um total de 25,49% de aumento. Foi também em julho que o governo anunciou o reajuste na alíquota de PIS/Cofins dos combustíveis. Na gasolina, a alíquota passou de R$ 0,3816 para R$ 0,7925 por litro.
DEZEMBRO DE 2017 FOI MAIOR QUE DE 2016
Apesar do recorde no resultado fechado do ano, a inflação veio mais alta que o previsto em dezembro. O mercado esperava alta de cerca de 0,3%. O avanço de 0,44% foi a maior taxa mensal de 2017, puxado justamente pelos preços de alimentos, que voltaram a subir após sete meses seguidos de deflação. O grupo registrou alta de 0,54% (em novembro, a deflação havia sido de 0,38%). Frutas (1,33%), frango (2,04%) e pão francês (0,67%) influenciaram o resultado.
Também houve uma aceleração dos preços de transportes (de 0,52% para 1,23%), por causa da alta de 22,28% das passagens aéreas. A gasolina, que também faz parte do grupo, registrou alta de 2,05%, reflexo dos reajustes no período.
O principal impacto para baixo em dezembro foi do grupo habitação, que engloba a energia elétrica. A conta de luz ficou 3,09% mais barata, por causa da volta ao patamar 1 da bandeira vermelha em 1º de dezembro. A mudança reduziu o custo adicional sobre a tarifa para R$ 0,03 por kwh consumido, em vez da cobrança de R$ 0,05 por kwh da bandeira vermelha 2, em vigor até o mês anterior.
Fonte: “O Globo”
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