Não é meu propósito permanecer indefinidamente circunscrito à corrupção e à fatídica faxina que a senhora presidente, depois de proclamá-la, cuidou de colocar no porão, dizendo-a destinada à pobreza… Engana-se a chefe do governo se imagina que a opinião se sujeitará a esse estratagema. Outro dia, 594 vassouras verde-amarelas foram colocadas à frente do Congresso e, da noite para o dia, elas desapareceram ou foram desaparecidas.
Isto posto, passo a outro tema. O país está a ver uma espécie de brinquedo entre gato e rato. Enquanto, pelo mundo afora e aqui mesmo, se fala que a crise é visível e iminente, o governo proclama que todas as providências apropriadas para enfrentá-la foram tomadas, ainda que os especialistas adiantem que os efeitos dela serão maiores e mais persistentes que a de 2008; como se tudo andasse em lua de mel, o governo se satisfaz com declarações graciosas; ora, ninguém ignora que a taxa de inflação burlou as previsões oficiais e ainda agora o Banco Central reconhece seu crescimento, ao mesmo tempo que definha o crescimento do PIB de 4% a 3,5%, e o governo, na linha do anterior, projetava-o generosamente. Outrossim, a carga fiscal, defendida por todo mundo, permanece intocada e só se fala em agravá-la com nova tributação. E o tempo, que não se recupera, continua a passar, dia e noite, incansável e implacavelmente.
Outro dado que não me parece desprezível se refere às obras relacionadas com a Copa do Mundo, que estariam atrasadas, fato não contestado, antes, confirmado na resposta da ministra do Planejamento, ao declarar que tudo está sendo feito para que as obras estejam prontas antes do início do certame e, quando lhe observaram que obras inadiáveis nem iniciadas foram, como o acesso aos locais previstos, ela respondeu que isto já tinha solução: bastava decretar feriado para reduzir o trânsito! Acredite se quiser nessa solução de cabo de esquadra. Aliás, a esquisita e inaudita solução, em vez de referir-se a cabo de esquadra, deve ser substituída por outra mais feminina como a que lhe teria tirado o equilíbrio, pela quebra do salto alto de seus sapatos.
Em face de problemas que não são pequenos nem adiáveis, sou levado a supor que, lembrados da Oração na Acrópole, já que estamos em tempo de Olimpíadas, recordem-se a sentença de Renan, “um imenso rio de esquecimento nos arrasta para um pélago sem nome”, capaz de tudo levar para o túmulo do esquecimento, inclusive as soluções de tamanha hierarquia.
Ainda bem que, entre tantos dados incômodos, acaba de surgir um capaz de compensá-los; um novo partido vem de ser criado, destinado, quiçá, a sanear o distrito político-eleitoral e o que possa imaginar-se. A nação pode respirar aliviada. A pátria está salva!
Fonte: Zero Hora, 03/10/2011
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