Na terça-feira da semana passada, o IBGE divulgou o IPCA-15 referente a julho. O IPCA-15 é a prévia da inflação do mês. Compara os preços médios vigentes entre 15 de julho e 15 de junho com os preços médios vigentes entre 15 de maio e 15 de junho.
Aparentemente, o índice veio mais fraco, o que sugeriu para muitos que finalmente a atividade econômica debilitada começava a atingir a inflação.
De fato, o IPCA-15 de julho marcou 0,17%, ante 0,40% do IPCA-15 de junho. Adicionalmente, o item que mais tem resistido a cair, a inflação de serviços, foi em julho de 0,50%, ante 1,10% em junho.
Como argumentei na minha coluna da semana passada, ainda não há sinais de moderação na alta dos preços, e, portanto, devemos procurar as causas da desaceleração da atividade menos na política de controle da demanda por meio do ciclo de elevação dos juros e mais na desorganização promovida pelo regime de política econômica adotada a partir de 2009 na dinâmica da economia.
Essa combinação de atividade para baixo e inflação para cima caracteriza uma estagflação.
Infelizmente a leitura de que a inflação está cedendo não presta a devida atenção ao fato de ela ser normalmente baixa nos meses de julho. A sazonalidade do processo inflacionário brasileiro tem essa característica.
Assim é mais seguro comparar a inflação de julho com a do mesmo mês do ano passado. Sob esse ponto de vista, tudo está pior.
Como vimos, o IPCA-15 de julho de 2014 fechou em 0,17%, acima, portanto, do 0,07% do mesmo índice de julho de 2013.
Se considerarmos os preços livres, temos 0,20% de 2014, ante 0,09% de 2013. Talvez fosse possível enxergar o início do processo de redução da inflação no item serviços: 0,50% em 2014, ante 0,67% em 2013.
O problema é que parte da inflação mais baixa de serviços em julho foi devolução de fortíssima alta de passagens aéreas em razão da Copa do Mundo, em junho. De fato, se olharmos a inflação de serviços de janeiro a julho de 2014, temos 5,14%, ante 5,15% para o mesmo período de 2013.
Ou seja, sendo o mais otimista possível com a dinâmica inflacionária, é possível enxergar em 2014, em comparação com 2013, desaceleração de 0,01 ponto percentual no item serviços. É só.
Mas será que a inflação da Copa, que atinge mais o setor de serviços, não explica em boa medida a estabilidade desse setor no índice de inflação? Ou seja, se não tivesse havido a Copa, será que já estaríamos observando desinflação nos serviços? Essa é uma questão pertinente, visto que o processo inflacionário brasileiro somente irá ceder se a inflação de serviços cair.
De fato, a Copa tem dificultado a leitura da inflação. No entanto, se considerarmos os serviços excluindo passagens aéreas e hotéis –itens que responderam pela quase a totalidade dos impactos da Copa-, notamos que o acumulado em 12 meses por tais preços subiu de 8,45% no IPCA-15 de junho para 8,70% na prévia de julho, patamar quase idêntico ao registrado no acumulado do de 2013 (8,72%).
Dessa forma, até o momento infelizmente não há sinais de arrefecimento do processo inflacionário, mesmo se tomarmos o cuidado de levar em conta os impactos pontuais da Copa do Mundo. É possível que até o fim do ano esses sinais apareçam. Não foi ainda em julho.
A sociedade paga o preço do baixo crescimento, mas não colhe a redução da inflação.
Fonte: Folha de S.Paulo, 27/07/2014.
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