Por Alex Campos*
Por enquanto, nem Aécio, nem Eduardo, nem Marina… a maior adversária da presidente Dilma é a inflação, que lidera a lista dos pecados prediletos do atual governo.
O fato é que os preços voltaram a assombrar trabalhadores, consumidores e eleitores. Quem faz compras é testemunha diária de que os alimentos estão progressivamente e abusivamente mais caros. E, de novo, o símbolo da indigestão nos orçamentos domésticos é o tomate, com disparada superior a 15%, segundo pesquisas da Fundação Getúlio Vargas. Além da FGV, outras instituições já detectaram elevações preocupantes.
Se Dilma insistir no discurso de que a inflação está sob controle, ela pode acabar irritando donas de casa que não estão vendo isso, nem nas feiras, nem nos supermercados. Alguém precisa explicar e alguém precisa entender que o número calculado oficialmente pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é uma coisa; já o custo de vida, o custo do dinheiro ou o custo do poder aquisitivo é outra coisa.
Aquele sorriso de aeromoça, presidencial e providencial, faz parte da liturgia do cargo, que exige tranquilidade mesmo em caso de turbulência. Mas, se a inflação bater de frente com a montanha de otimismo pré-moldado, a economia vai virar troças, troços e destroços. Daí, passageiras e passageiros da agonia vão se sentir enganados, e a reeleição vai acabar perdida, sem direito a caixa preta para contar história.
Não é à toa, nem por acaso, que o Fundo Monetário Internacional (FMI) está prevendo inflação no Brasil em torno de 6% nos próximos três anos. Um perigo real e imediato porque o descontrole de preços põe em risco uma estabilidade financeira de quase duas décadas, que precisa ser preservada. Para isso, o Governo Dilma precisa entender que inflação não se combate apenas com bravatas, retóricas e desonerações aqui ou ali. O desafio exige esforços de redução de gastos públicos, revisão de legislações caducas e reforma de impostos abusivos. Só assim é possível promover corte de juros de forma sustentável, em vez de corte de juros na base do grito, decreto, marketing ou propaganda. Sem estratégia séria, planejada e organizada, o Banco Central (BC) vai precisar elevar a taxa oficial para dois dígitos já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
Para se ter ideia do poder destrutivo da inflação, basta observar que, no Brasil, a moeda de R$ 1, sozinha, já não paga nada – nada além de bala, jujuba ou amendoim. Reparem também que, há muito tempo, R$ 2 não pagam sequer uma passagem de van, trem, metrô, ônibus ou carroça. Quem tem hoje 30 anos não sabe bem do que se trata, mas, além dessa idade, é possível lembrar que, na época da inflação, o dinheiro sofria uma espécie de “câncer monetário”. A cada minuto e a cada centavo, a moeda ou cédula ia se enfraquecendo nas feiras, nos cinemas, nos restaurantes, nos supermercados… até morrer de falência múltipla do valor de compra.
Graças à cura descoberta quase 20 anos atrás, na reengenharia financeira do Plano Real, uma geração inteira foi poupada dessa dor. Cabe agora ao governo atual, responsável pela reincidência do “câncer”, impedir que a inflação volte a matar nossa economia e, no fim das contas, volte a matar nossa esperança.
*Alex Campos é jornalista, diretor de Redação do “Jornal Corporativo” e apresenta a coluna “Painel Econômico” na rádio JB FM.
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