A crise gerada pela alta dos combustíveis é um daqueles acontecimentos com potencial devastador, pois tem força para tornar-se a fagulha que pode fazer o asfalto gritar, atingindo os tímpanos de um governo impopular e surdo diante das demandas da população. Emparedado, cedeu. Enfraquecido, mais uma vez teve que usar os militares para se impor.
O tratamento dado para a crise foi muito aquém do necessário, evidenciando o despreparo na sua gestão. A corda foi esticada além do limite, transportando o problema para as estradas, gerando desabastecimento e insegurança para a população. A crise foi subestimada desde o princípio. Isto corrobora a sensação crescente do eleitorado de que o governo vive em uma realidade paralela, desconexa daquela vivida pelo brasileiro comum – razão maior de sua impopularidade.
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Esta crise deixou evidente que o Brasil possui um problema de autoridade e governabilidade. Com uma popularidade de 4%, falta ao Planalto estas condições essenciais, especialmente em tempos de crise, de liderar. Sem liderança, não há comando. O resultado é este que estamos vendo. O governo, para fazer valer sua autoridade, precisa recorrer as Forças Armadas. Ao recorrer à força, deixa evidente que perdeu a confiança e comando do país. Errou na avaliação do cenário e na aplicação do remédio.
A verdade é que o Brasil segue em voo cego, com um governo que opera somente por instrumentos até a posse daquele que será eleito em alguns meses. A ausência de liderança é amplificada pela falta de legitimidade popular, evidente na atitude do Parlamento, que enfrenta o governo sem cerimônias, assim como de enorme parcelada da sociedade, que optou por desafiá-lo até ouvir a ameaça do som das baionetas vindos dos quartéis. Triste constatação. Nenhum governo deve se fazer respeitar por meio da força.
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A temperatura da crise foi crescendo na medida que o governo mostrava sinais de que não governa, mas era governado e atropelado pelos fatos. Conseguiu ser abatido em seus dois pilares mais fortes: o abastecimento, impulsionado pela agricultura, e a economia, incinerada pela alta dos combustíveis e do dólar. Ciente de que não possui realizações robustas em qualquer outra frente, a ideia de que a candidatura de Henrique Meirelles poderia ganhar impulso, ficou restrita em alguma rodovia paralisada do país. Nem tropas federais podem ajudá-lo nesta frente. Representante de um governo abatido e debilitado, depois desta semana, é mais uma carta fora do baralho da sucessão.
Enquanto o desgoverno se torna uma realidade, a população espera o resultado das urnas e paga a conta. A missão agora é simplesmente terminar o mandato, na esperança que outra crise não leve a pique seus integrantes. O maior inimigo deste governo é o próprio governo.
Fonte: “O Tempo”, 28/05/2018