No Brasil, acredita-se que o crescimento é mera questão de vontade política. Se o governo tiver coragem e agir, a economia se expandirá rapidamente. Assim, a equipe econômica deve substituir o suposto discurso monotemático do ajuste fiscal por medidas destinadas a criar empregos. A ladainha, decrépita de trinta anos, nunca deu certo, mas ressurge agora com a angústia causada pela recessão.
Políticos, empresários e comentaristas demandam essa mágica com base em visões equivocadas sobre o funcionamento da economia. A então presidente Dilma, prisioneira das mesmas visões, tentou fazer isso a golpes de voluntarismo. Deu no que deu. Ainda assim, as mesmas ideias salvacionistas voltaram à cena.
Ignora-se que o crescimento resulta de um conjunto complexo de fatores, e não raramente do fator sorte. Nenhum país cresce sem ganhos permanentes de produtividade, o elemento mais importante do processo. É fundamental ainda dispor de instituições favoráveis à inovação e ao investimento. Tudo isso requer tempo e difíceis reformas.
A economia está enferma devido, essencialmente, à má gestão do PT. Hoje, apenas o agronegócio ganha produtividade. O potencial de crescimento do país declinou para 2% ou menos. Esse corpo doente precisa de longa recuperação e de reformas para superar a convalescença. Querer a restauração imediata do crescimento equivale a aplicar uma injeção na veia do paciente para que ele pule da cama e corra a maratona.
A fórmula é nossa velha conhecida: aumento de gastos públicos, desonerações tributárias, redução da taxa de juros, desvalorização cambial, uso das reservas cambiais para financiar investimento, afora o uso dos bancos públicos para ampliar investimentos. Dilma recorreu a quase tudo dessa lista, à qual acrescentou intervenção desastrada na economia e notória incompetência. A colheita resultou em inflação, recessão e aumento da inadimplência no sistema financeiro, além de brutal expansão da dívida pública, via suprimento infrutífero de recursos do BNDES e combinação explosiva de renúncia de receitas e elevação de despesas.
O atual governo resiste às pressões para adotar o cardápio salvacionista (e suicida). Elegeu a prioridade correta, concentrada no ajuste fiscal para restabelecer a confiança e livrar o país do risco de insolvência fiscal. Tudo bem que sempre é possível, como recentemente, tomar medidas microeconômicas para atacar efeitos colaterais da enfermidade. Elas são corretas, é verdade, mas estão longe de enfrentar, com o vigor necessário, a questão central da produtividade.
Dificilmente, portanto, essas medidas darão frutos imediatos, como esperam os angustiados. Elas servem, a curto prazo, para mostrar que o governo está agindo. Se houvesse margem para aumentar gastos (não há), poder-se-ia acelerar a ocupação da capacidade ociosa da economia. O crescimento voltaria mais cedo sem pôr sob risco o objetivo, até aqui bem-sucedido, de reduzir a taxa de inflação.
Resta o papel da equipe do Banco Central, que restaurou a credibilidade da instituição e ancorou as expectativas inflacionárias. Com a inflação em baixa, o ciclo de redução da taxa de juros pode ampliar-se ao longo do ano. O BC, é, pois, a única fonte de recuperação responsável da economia a curto prazo, embora nada brilhante.
O governo precisa de paciência e preparo para emergências que poderão vir da crise dos estados e de eventos graves como a carnificina em penitenciárias. Além disso, haverá risco de degradação da reforma da Previdência, que poderia dissipar esperanças de restauração, a médio prazo, de um ritmo de crescimento econômico minimamente satisfatório.
É possível que Temer sofra pressões para inflar artificialmente a economia e, talvez, mudar a equipe. A piora do desemprego e a divulgação, em fins de março, do mau desempenho do PIB em 2016 poderão detonar outra onda em favor de medidas irresponsáveis. Ao que tudo indica, ele resistirá, mas a turma da pressão não vai desistir facilmente. A demanda por mágicas tem força para renovar-se a cada fracasso.
Fonte: “Veja”, 1º de fevereiro de 2017.
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