Os temas de governança e compliance não são totalmente novos nas grades curriculares brasileiras – mas foram elevados a outro patamar nos últimos tempos. A Fundação Instituto de Administração (FIA), por exemplo, tem MBAs para gestão de fraudes corporativas há sete anos, com foco em controladoria e ações de mitigação de risco, mas aumentou de forma expressiva essa abordagem tanto nos currículos como no leque de cursos.
“Tivemos um olhar pioneiro, muito antes desse ‘boom’ da temática de corrupção no País”, aponta Fábia Cunha, coordenadora do Proinfo, um departamento de pesquisa da FIA em governança e compliance. “Porém, com a Lava Jato e os outros grandes casos que despontaram na mídia, esse tema foi crescendo, o que nos levou a aumentar os currículos dos nossos cursos.”
Hoje, a instituição ministra seis cursos nessa área, que tem ganhado cada vez mais destaque. “Com a Lei Anticorrupção, de 2013, e o decreto 1.420, de 2015, que a regulamenta, trouxemos a regulação do compliance para dentro dos cursos. Agora, ele aparece em todas as áreas da empresa”, diz.
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Para além das práticas anticorrupção e da relação das empresas com o governo, ela afirma que surgiu uma demanda de práticas de compliance na relação privado-privado – ou seja, entre os próprios entes privados. “Trabalhamos ética na relação entre parceiros comerciais, compliance trabalhista, de infraestrutura, bancário e até na área de saúde”, exemplifica.
Na Fundação Getúlio Vargas, também já havia há mais de dez anos cursos abertos nas áreas de controladoria e auditoria. Mas foi há dois anos que o currículo ficou mais específico. “Os grandes escândalos, como a Lava Jato e os episódios com a Samarco e a JBS, por exemplo, foram uma alavanca para a gente engrossar as nossas disciplinas de governança e compliance”, afirma o coordenador do MBA Executivo em Finanças: Controladoria, Auditoria e Compliance, Betovem Coura.
Ele conta que, além dos cursos abertos e a distância, a fundação ministra cursos corporativos sob demanda, que são feitos “a quatro mãos”, com treinamento customizado para executivos. “As empresas começaram a nos procurar para melhorar suas práticas de governança. A demanda foi gigante. Logo, como estamos em contato direto com o mercado, sentimos necessidade de oferecer também cursos abertos nessa área.”
Hoje, o perfil dos alunos desse curso, que tem duração de 18 meses, é de profissionais das áreas de Negócios, Contabilidade, Economia e Direito. As turmas variam de 30 a 40 alunos. “Mantemos as turmas pequenas para trabalhar melhor os cases”, aponta. A fundação também tem um curso de curta duração em compliance e anticorrupção, em São Paulo.
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Coura afirma que as práticas de governança se disseminaram, mas ainda estão muito restritas a empresas presentes nos grandes centros metropolitanos, sobretudo em São Paulo, onde se encontram filias de grandes multinacionais. “As empresas têm medo de legislação e de multas tributárias ou trabalhistas, mas agora também se preocupam com a imagem ser manchada. Em São Paulo, as empresas entenderam isso e se aculturaram rapidamente; mas a gente tem um país gigante”, diz. “Ainda há muitas empresas que acham que isso é burocracia para cumprir legislação e evitar multa.”
O Insper também tem dois cursos de compliance e gestão de compliance, que começam este mês. No primeiro, o objetivo é mapear os riscos e implementar o programa. Depois de implementado, é preciso fazer a gestão, afirma o coordenador de Educação Executiva do Insper, Rodrigo Amantea. Segundo ele, de 2013 para cá, foram 47 turmas no curso de compliance.
No Ibmec, os cursos são customizados de acordo com os pedidos das empresas. Mas, a partir de outubro, a instituição estreia um curso de pós-graduação. / ANNA CAROLINA PAPP e R.P.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”