Há uma abundância de petróleo no mercado global tanto pelo aumento da produção de shale oil nos EUA e pelo retorno da produção iraniana quanto pela desaceleração da demanda dos países emergentes, principalmente a China.
Não há previsão de retorno do preço do barril de petróleo aos níveis excepcionalmente altos dos últimos anos, pois, além da questão de oferta/demanda, há fatores ambientais que fundamentam a tese de que preço do petróleo a US$ 100/barril, nunca mais. O G7 emitiu uma resolução que define que em 2100 o mundo não vai mais queimar combustível fóssil. Mesmo as empresas de petróleo da Europa já pediram aos seus governos que os combustíveis fósseis sejam tributados por emissão de CO2. Isso sem falar no crescente aumento da chamada eficiência energética.
No momento em que os preços de petróleo entram em colapso e o mundo vive um novo contrachoque, cria-se o cenário propício para a ocorrência de fusões e aquisições. Isso ocorreu no contrachoque de 1986, quando tivemos a compra da Mobil pela Exxon, da Texaco pela Chevron, da Elf e da Fina pela Total e outras. Por que isso acontece? Porque empresas que entram num ciclo de queda dos preços do barril endividadas acabam quebrando ou sendo compradas por outras, que têm boa saúde financeira. A Petrobrás está entrando neste momento de preços baixos da pior maneira possível: tem a maior dívida entre todas as petroleiras do mundo e não tem um plano estratégico para enfrentar essa situação.
Tem uma dívida de cerca de R$ 500 bilhões vencendo nos próximos seis a sete anos (média de R$ 70-80 bilhões por ano); investimentos da ordem de R$ 80 bilhões por ano, em sua maioria já contratados e em nada relacionados com novas áreas do pré-sal; e uma geração de caixa líquida de impostos da ordem de R$ 40 bilhões por ano. A conta simplesmente não fecha. A Petrobrás, a empresa mais endividada do mundo, está sufocada. Sua dívida, hoje, após sucessivos rebaixamentos de seu rating por agências de classificação de risco, em grau especulativo, paga juros de 13% ao ano (a.a.), em dólares, comparados a 2% a 3% a.a. de outras petroleiras internacionais, como Exxon, Chevron e Shell, e até com os 5% a 6% a.a. dos títulos da dívida do Tesouro Nacional.
Existe grande preocupação sobre como a empresa vai conseguir manter seus investimentos e, ao mesmo tempo, pagar a imensa dívida nos próximos anos ou, ao menos, refinanciá-la. Os juros astronômicos, mesmo quando comparados aos do Tesouro Nacional, sugerem que os investidores não estão seguros de que a empresa vai conseguir equacionar sua dívida. Nesse contexto, quando pairam tantas dúvidas sobre como a empresa vai equacionar os seus atuais investimentos e sua dívida, como alguém pode acreditar que a empresa não teria problemas para financiar investimentos no pré-sal de novas áreas a serem leiloadas? A própria empresa já divulgou em seu plano de negócios que não consegue reduzir seu nível de endividamento antes de cinco a sete anos, e isso assumindo que conseguiria vender US$ 50 bilhões em ativos até 2018.
Recentemente, a Petrobrás revisou suas reservas de petróleo de 13 bilhões de barris para 10 bilhões de barris, uma redução de quase 23% nas reservas brasileiras. Sem recursos para investir, as reduções dessas reservas vão continuar.
Existe uma máxima na indústria do petróleo que afirma que petróleo embaixo da terra não vale nada. Só gera riqueza quando é extraído. O Brasil perdeu uma oportunidade sem precedentes ao deixar, durante seis a sete anos, de realizar leilões quando o barril de petróleo estava acima de US$ 100. Puniu-se com essa política geração futura de brasileiros, pois se impediram novos investimentos e uma enorme geração de empregos. As nações fortes e corajosas são aquelas que não se utilizam do petróleo para fazer populismo, ganhar eleições e favorecer apenas os amigos do rei. As nações fortes e corajosas não deixam o petróleo se transformar numa maldição e não utilizam sua empresa de petróleo como instrumento de política econômica e partidária.
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