Mesmo com todos os avanços tecnológicos que temos hoje, o mundo não foi capaz de prever, ou evitar, o avanço do novo coronavírus, que já matou mais de 350 mil pessoas. Mas é provável que esta seja a última pandemia, graças à inteligência artificial. Esta é a opinião do presidente e diretor executivo da Sinovation Ventures e ex-presidente do Google China, Kai-fu Lee, que participou na noite desta quarta-feira de um painel com o diretor executivo da Globo Ventures, Roberto Marinho Neto, em evento promovido pelo movimento Brazil at Silicon Valley.
— Eu acho que no longo prazo a prevenção de pandemias será possível com a inteligência artificial — afirmou Lee. — Nós usaremos roupas inteligentes, conhecidas como wearables, que produzirão dados e os enviarão para a nuvem onde será possível perceber anomalias precocemente. Assim, espero que a próxima pandemia possa ser prevista e evitada.
De acordo com o especialista, reconhecido como uma das maiores autoridades em inteligência artificial, a própria crise que vivemos irá impulsionar o uso da tecnologia no campo da saúde. A telemedicina está, enfim, se tornando uma realidade, como forma de proteção aos profissionais de saúde e de aumento da eficiência.
Últimas notícias
BNDES quer ‘casar’ investimentos para oferta e demanda de gás natural
Estados estimam que crise do coronavírus pode gerar queda de até R$ 20 bilhões em recursos do Fundeb
Guedes avalia criar socorro de até R$ 10 mil para microempresas
Os diagnósticos e atendimentos on-line gerarão dados, que irão abastecer as inteligências artificiais. Com cada vez mais informações, incluindo as de sequenciamentos genéticos, únicos para cada pessoa no mundo, esses sistemas poderão personalizar os tratamentos, eventualmente superando os médicos humanos.
— Os médicos não podem digerir um sequenciamento genético completo, mas uma inteligência artificial pode — afirmou o especialista. — Então, eu vejo que a medicina personalizada se tornará cada vez mais precisa que os médicos humanos ao longo dos anos.
Mas o aumento da quantidade de dados gerados não se dá apenas na medicina. As políticas de isolamento dos que podem ficar em casa forçaram o mundo a avançar na digitalização. Escritórios, salas de aula e até os encontros de familiares e amigos migraram para o digital. Todas essas atividades geram dados, que alimentam os sistemas de inteligência artificial.
Dessa forma, prevê Lee, é possível que num futuro próximo as pessoas se relacionem com máquinas, por meio de avatares que reproduzem os humanos em ambientes digitais. Sistemas inteligentes poderão, por exemplo, dar aulas ou palestras, com a forma e a aparência que estamos sendo acostumados pela quarentena.
— Agora, nós estamos confortáveis com as videoconferências. Se em vez de um humano conversando, for um avatar realista, as pessoas vão achar aceitável — notou Lee.
Oportunidade para o Brasil
Essa nova realidade gera oportunidades para empreendedores, e o Brasil, na visão de Lee, tem na grande população um diferencial para aproveitá-las. De acordo com o especialista, a China conseguiu, num curto espaço de tempo, rivalizar com os EUA no campo da inteligência artificial graças, em parte, à imensa população, que gera quantidades enormes de dados.
+ Abertas as inscrições para o Clube Millenium
De acordo com previsões da consultoria PwC, a inteligência artificial irá gerar US$ 15,7 trilhões à economia global até 2030, mas apenas China e EUA irão abocanhar cerca de 70% dessa riqueza.
— Mais dados geram sistemas melhores, e a China tem mais dados que qualquer outro país — afirmou Lee. — O Brasil tem uma oportunidade, por conta da grande população.
Mas para trilhar o caminho chinês não basta ter grande população. É preciso formar talentos no campo da computação, buscar um modelo de empreendedorismo e incentivos aos investidores anjos, responsáveis por bancar o início das start-ups, o momento mais crítico do ecossistema de inovação.
A China, contou Lee, começou sua indústria de tecnologia copiando o Vale do Silício com empresas como Baidu, o “Google chinês”, e Sina Weibo, o “Twitter chinês”. Com o tempo, as companhias “copiadoras” ganharam musculatura no imenso — e protegido — mercado interno chinês e passaram a inovar, apostando, especialmente, na inteligência artificial.
— Se você já tem talentos em ciência da computação, não é difícil que eles aprendam inteligência artificial — afirmou o especialista. — Se o Vale do Silício é imitável, a China também pode ser imitada. O que realmente precisa é ter mais capital de risco.
Fonte: “O Globo”