O Rio de Janeiro vive em estado de falência completa. Falência das instituições, dos quadros políticos, da sociedade em geral. É um aperitivo do processo de desconstrução pelo qual passa o Brasil. O método vai mais além. Inverte princípios, enaltece o crime e a malandragem, despreza o mérito e subverte valores basilares da constituição de uma sociedade fraterna, virtuosa e vitoriosa. O caminho trilhado há tempos somente tem um resultado: este que estamos vivendo, perplexos e aparvalhados.
O governo, ponto central do desequilíbrio, entrega benesses em troca de apoio para permanecer no poder. Grupos políticos revezam-se no comando das instituições com o intuito de saquear os cofres públicos. Mesmo com royalties do petróleo, pré-sal, investimentos internacionais, Olimpíadas e Copa do Mundo – que despejaram caminhões de recursos no Rio –, o poder púbico foi incapaz de entregar reformas educacionais, melhorias no sistema de saúde, investir em segurança, em modelos de organização urbana ou de desburocratizar a máquina governamental para os empreendedores.
Nada foi feito além de obras superfaturadas e maquiagens urbanas para ludibriar os olhos dos turistas e dos cariocas. Pão e circo.
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Apenas entre 2014 e 2016, o Rio de Janeiro recebeu R$ 235 bilhões em investimentos. Não faltou dinheiro. Faltou competência e honestidade. O volume de recursos desviados pela organização criminosa chefiada pelo ex-governador Sérgio Cabral deixa evidente que o crime se infiltrou no Estado. A política fluminense está apodrecida. A Lava Jato, em seu capítulo carioca, pede o ressarcimento de R$ 2,28 bilhões aos cofres públicos. Até o momento, conseguiu recuperar apenas R$ 451,5 milhões. O volume assusta, mas certamente é muito maior, pois, somente na operação Fratura Exposta, são investigados desvios de mais de R$ 300 milhões na área da saúde. Enquanto isso, o governo investe R$ 75 milhões no Carnaval e R$ 74 milhões na segurança pública. Um escárnio.
O Rio de Janeiro está entre os dez Estados mais violentos no Brasil. Isto nos prova que o problema não se restringe ao seu perímetro. É um fenômeno sistêmico nacional. Se o objetivo é combater o crime organizado, as ações devem superar os limites fluminenses, mas tudo indica que o objetivo é simplesmente combater a desordem e fornecer maior sensação de segurança. Não está sendo atacado o cerne da questão.
Precisamos repensar o modelo de sociedade que desejamos para o Brasil. No desmonte dos valores, na degradação moral, na desconstrução ética. Estas são as bases que faltam atualmente. O brasileiro não é vítima, mas parte do problema. Já chegou o momento de darmos uma resposta, de nos perguntarmos que tipo de sociedade desejamos e trabalharmos para que surja desta reflexão um futuro melhor para nosso país. Do contrário, viveremos de intervenção em intervenção, enxugando gelo, reféns de uma sociedade doente e de políticos desonestos.
A verdadeira intervenção de que precisamos é de ordem moral e ética, dentro de valores que construam uma sociedade virtuosa, decente e honesta para nossas futuras gerações.
Fonte: “O Tempo”, 19/02/2018