Escalada do preço do barril do petróleo, queda de produção entre importantes produtores e acordo político entre a OPEP para manutenção de valorização dos preços, além da retomada econômica global. Os fundamentos para a Petrobras eram promissores: mas, parafraseando Carlos Drummond de Andrade, “tinha um governo no meio do caminho”.
Em apenas dois pregões (19 e 22), a companhia perdeu mais de R$ 100 bilhões de valor de mercado diante do receio de troca de comando na Petrobras. O aumento do preço do petróleo no mercado internacional e a desvalorização do real frente ao dólar resultaram no aumento dos combustíveis — isso após a desvalorização chegar a até 21% para a gasolina e 14% para o diesel quando comparado com o mercado internacional. Os reajustes da companhia, repassando os preços, desagradou setores da sociedade e motivou as críticas do presidente Jair Bolsonaro. A queda nas ações refletiu a precificação desse movimento e, mesmo que ela tenha recuperado em parte nos dias seguintes, há lições relevantes que podemos tirar do episódio.
Afinal, os temores de investidores não são à toa: o governo de Dilma Rousseff foi marcado pela manipulação de preços da empresa de economia mista a fim de controlar a inflação. A própria empresa calcula que decisões de não repassar os preços internacionais para o diesel e a gasolina entre 2008 e 2018 causaram prejuízo de R$ 180 bilhões para a estatal. Para efeitos de comparação, segundo laudo da Polícia Federal de setembro de 2016, os prejuízos que a Petrobras teve com os esquemas de corrupção desvendados pela Lava Jato poderiam chegar a até R$ 42 bilhões, isto é, quatro vezes menos!
Estatais não podem ser utilizadas para se fazer campanha de reeleição, políticas públicas e tampouco assistencialismo aos mais vulneráveis — para isso, o governo já dispõe de enorme orçamento e ferramentas que são, inclusive, mais eficazes. Mais do que isso: ao interferir na empresa, não será prejudicado apenas quem investiu em ações da Petrobras, mas em última análise toda a população com a falta de confiança gerada, instabilidades e até riscos de desabastecimentos.
Há ainda outros problemas. O governo já anunciou a suspensão de tributos federais sobre o diesel por dois meses, o que custará aos cofres públicos cerca de R$ 3,3 bilhões no período — o que pode elevar a pressão internacional sobre políticas ambientais no Brasil, além de aumentar os problemas fiscais ao pressionar o Ministério da Economia: como será compensado esse valor? Eis a questão.
A expectativa de mercado é que a empresa de economia mista registre ganhos de R$ 34 bilhões em 2021, mas tal resultado depende fortemente dos valores do barril do petróleo e também do governo desistir de praticar aventuras que no passado já deram muito errado.
Foto: Reprodução