Retornei de um périplo por Londres, Washington e Nova York, onde fiz palestras sobre as eleições presidenciais para investidores, executivos e empresários interessados no Brasil. É uma rotina que mantenho regularmente desde 1992 e que se intensifica nos anos eleitorais. Para os investidores, em cada eleição existe uma história ou uma característica que desperta maior interesse.
Em 1994 era o sucesso da URV e do Plano Real, bem como a desejada eleição de FHC. Em 1998, os temas eram a reeleição de FHC e o modo como o Brasil enfrentaria o pós-crise da Rússia e a questão cambial.
Em 2002, os assuntos mais palpitantes eram as chances de José Serra vencer a disputa pela presidência, a manutenção do Plano Real e a possibilidade de vitória de Lula. O ponto em comum nas três eleições era a questão econômica.
Já em 2006, o mercado teve uma atitude diferente. Olhava o Brasil na base do “tanto faz quem ganhe, desde que não seja irresponsável economicamente”. Geraldo Alckmin e Lula não causavam temor. Um pelo que representava; o outro, por sua trajetória no primeiro mandato.
Em 2010, o mercado e os investidores em geral acompanham com atenção, pouca preocupação e muita confiança no que pode acontecer. Repete-se o quadro de 2006, quando não existia uma preferência declarada. Dilma Rousseff e José Serra, de modo geral, tendem a seguir o receituário econômico de estabilidade e não vão promover nenhuma loucura.
Os “fundamentalistas”, aqueles comprometidos com políticas fiscais rigorosas, gostariam de ver Dilma mais envolvida com a redução de gastos. Já os “desenvolvimentistas” gostariam que os ganhos sociais da era Lula fossem preservados por Serra e o mercado interno continuasse a crescer. No fundo, admitem uma conciliação responsável dessas duas visões.
Um ponto em comum é a expectativa de que o país prossiga aperfeiçoando suas instituições e atuando em aspectos em que não vai bem. A lista de preocupações é importante, e algumas são bastante específicas.
Nosso sistema tributário é visto como arcaico e penalizador, tanto dos mais pobres quanto daqueles que geram empregos e promovem investimentos. Outro ponto de reflexão refere-se às políticas relacionadas a segurança, saúde e educação. Veem no Brasil um Estado caro, pouco eficiente e que precisa melhorar muito a qualidade dos serviços ofertados.
Lamentam a precariedade de nossos principais aeroportos e temem um “apagão” logístico em função do crescimento econômico previsto.
O mapa de interesses do investidor estrangeiro em relação ao Brasil está delineado a partir de alguns vetores: previsibilidade econômica, responsabilidade fiscal, políticas sociais, expansão do mercado interno, menos burocracia, mais racionalidade do sistema tributário, mais e melhor educação e aumento de eficiência nos serviços públicos.
Por conta do desempenho extraordinário de nossa economia, por nossas potencialidades e pelo efeito positivo da realização no país da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016, o Brasil é considerado uma grande esperança em um mundo ainda machucado pelo crash de 2008.
Fonte: Jornal “Brasil econômico” – 26/10/10
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