A energia solar representa pouco mais de 1% da matriz energética do país. Mas essa fatia saltará a 8% em dez anos, segundo o plano do governo. Os investimentos para sustentar a meta já estão em curso, segundo especialistas. Somente em grandes usinas solares, estão previstos R$ 9,5 bilhões em projetos até 2025.
Na geração distribuída, em que a energia solar é produzida em painéis em telhados e fachadas de casas ou empresas – além das fazendas solares (que geram e vendem energia solar em terrenos) – a estimativa é que outros R$ 16 bilhões sejam movimentados, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), em investimento, emprego e imposto.
– Essa fonte (de energia) começa a crescer de forma acelerada, num movimento semelhante ao que o setor eólico passou desde 2008 – diz Thiago Abreu, diretor da G2A Consultores, especializado em energias renováveis.
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O volume de energia solar que o governo espera incluir na matriz energética – 7 gigawatts (GW) – é suficiente para abastecer mais de 3,6 milhões de residências.
Enquanto a geração distribuída aguarda novas regras da Aneel, a agência reguladora, e do Congresso, grandes usinas avançam. Segundo a consultoria Greener, especializada em energia solar, os R$ 9,5 bilhões que devem ser investidos em novas usinas só consideram empreendimentos já contratados em leilões. Ao menos outros R$ 10,6 bilhões foram aplicados até 2019.
– O total de investimentos não inclui os próximos leilões que a Aneel deve realizar. Portanto, o total até 2025 será maior — diz Márcio Takata, presidente da Greener.
Os leilões são a principal forma de contratação de energia no Brasil no mercado regulado – no qual os consumidores são atendidos pelas distribuidoras que têm concessão para vender energia na região.
Mas Takata observa que o gatilho para o crescimento virá do mercado livre, no qual as empresas podem comprar energia de qualquer fornecedor. O estudo da Greener mostra que 5 GW em projetos de usinas solares devem ser destinados ao mercado livre.
As grandes usinas solares deram um salto no Brasil entre 2014 e 2019. São 90 em operação, especialmente na Região Nordeste, onde estados como Bahia, Ceará e Piauí se destacam. Mas há crescimento no Sudeste. Minas Gerais é o estado onde essa fonte mais avança, seguido por São Paulo.
Na semana passada, a fabricante de equipamentos e investidora em energia solar Canadian Solar anunciou que obteve empréstimo de R$ 225,2 milhões do Banco do Nordeste do Brasil para financiar nova usina em Lavras, no Ceará, com 152,4 megawatts (MW) de capacidade.
A construção começa no segundo trimestre e ela entra em operação em 2021. A Canadian vai construir usinas em Pernambuco e Minas e já obteve empréstimos da ordem de R$ 1 bilhão.
A Enel Green Power do Brasil, braço do Grupo Enel, investiu R$ 1,4 bilhão na construção de um parque solar em São Gonçalo do Gurguéia, no Piauí. A usina foi inaugurada no fim de 2019 e produzirá 475 MW.
A planta será ampliada e, quando estiver em plena operação, vai gerar energia suficiente para abastecer mais de 820 mil residências. Os painéis captam a luz solar nos dois lados, o que eleva a geração de energia em até 18%.
– O Brasil avançou muito. Os leilões são competitivos, os contratos, de longo prazo, a incidência solar está entre as mais competitivas do mundo e a evolução tecnológica e a queda de preço dos painéis ajudaram muito – diz Roberta Bonomi, responsável pela Enel Green Power do Brasil.
Coronavírus
Entre 2014 e 2019, houve queda de 43% no preço dos painéis solares comercializados, segundo dados da Aneel.
Na usina da Enel no Piauí foram gerados 2.200 empregos diretos. Ao menos 331 moradores, especialmente mulheres, foram capacitados pela empresa junto com escolas no curso de mecânica. Para a Absolar, o avanço da energia solar será capaz de gerar 120 mil postos de trabalho este ano.
– O setor gera emprego qualificado, com salário mais alto – diz Rodrigo Sauaia, presidente executivo da Absolar.
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Mesmo com todo otimismo, dois fatores preocupam. O primeiro é o impacto da crise do coronavírus na atividade econômica da China. O país produz 70% dos painéis solares. Com a paralisação das atividades no gigante asiático, fábricas podem atrasar entregas.
Sauaia, da Absolar, observa que por enquanto não foram reportados problemas. Além disso, muitas empresas têm estoques. Há fornecedores alternativos em outros países asiáticos, além de México e EUA. No Brasil há 40 fabricantes de componentes, observa Sauaia.
O outro ponto de interrogação é a indefinição se essa fonte de energia será taxada ou não. O marco regulatório será discutido pelo Congresso.
Se a taxação for implantada, o consumidor de energia solar terá de pagar pelo transporte da energia nas redes de distribuição, o que deve encarecer em quase 70% a conta.
A Órigo, com fazendas solares em Minas Gerais, pretende investir R$ 200 milhões este ano. Mas a quantia depende de uma definição das regras para a geração compartilhada. O presidente Jair Bolsonaro já disse que é contra a taxação.
Fonte: “O Globo”