O IPCA de julho não surpreendeu, vindo dentro da expectativa. Isso não altera o fato de que foi muito bom: 0,03% de alta, contra taxa média de 0,52% na primeira metade do ano. A proporção de preços em alta também caiu, para 58%, contra pico de 73% em fevereiro.
Infelizmente, porém, isso não diminui o perigo que a alta inflação representa. Não só por esta ter ficado em 6,3% em 12 meses, como pela transitoriedade dos fatores que a puxaram para baixo em julho. Foram três esses fatores: a sazonalidade favorável, a queda do preço dos alimentos, e a reversão do reajuste das tarifas de transporte público.
Na média dos últimos quatro anos, a inflação de julho ficou 0,25 ponto percentual abaixo da média do ano. Ou seja, tudo mais igual, a inflação vai subir no resto do ano. A queda dos preços dos alimentos subtraiu 0,08 ponto percentual da inflação de julho. Apesar disso, esses aumentaram 11,4% em 12 meses. Ainda há espaço para novas quedas nesse item à frente. Mais improvável é a repetição da deflação de gastos com transportes, que tirou 0,13 ponto percentual do IPCA.
Considerando apenas estes fatores, seria razoável esperar que o IPCA subisse pouco mais de 0,4% ao mês no resto de 2013. Assim, aumentaria 5,5% no ano, abaixo dos 5,84% de 2012, como é a meta do Banco Central. Estaria aberto o caminho para continuar reduzindo a alta do IPCA em 2014-15 até perto da meta oficial, ainda que meio esquecida, de 4,5% ao ano. Infelizmente, a realidade não tende a ser assim tão linear.
O enfraquecimento do mercado de trabalho joga a favor. A taxa de desemprego já subiu em junho e deve aumentar mais no resto do ano e em 2014. Com isso, o rendimento dos trabalhadores vai ter dificuldade de acompanhar a inflação. O salário mínimo em 2014 também vai subir menos que nos últimos anos, algo entre 6,5% e 7%.
Isso moderará a alta dos preços dos “não comercializáveis”, que nos últimos quatro anos subiram em média 8% ao ano. Essa desaceleração tende a ser, porém, bem gradual, pois as expectativas de inflação estão muito desancoradas. Para trazer a inflação para a meta, seria preciso manter o desemprego alto por muito tempo. Analistas de mercado não acreditam nisso e projetam para 2017, quatro anos à frente, uma alta do IPCA de 5,5%.
A alta do dólar, por outro lado, joga contra. Com o esfriamento da economia, o impacto do câmbio sobre os preços será moderado. Mas ele vai acontecer, mesmo que aos poucos. Além disso, é provável que o dólar suba mais conforme avance a normalização da política monetária americana. A ver.
Mais importante, porém, é que a inflação vem sendo puxada para baixo por fatores insustentáveis a médio prazo. Nos últimos 12 meses, os preços de transporte subiram apenas 2,2%, menos de um terço dos demais preços. Nos últimos quatro anos, os preços monitorados aumentaram apenas 3,6% ao ano. Para conseguir isso, o governo vem gastando dezenas de bilhões de reais, entre subsídios à eletricidade e perdas da Petrobras. Um dia as tarifas de ônibus e metrô e o preço da gasolina vão ter de subir. E não vai ser pouco. Não vai acontecer este ano ou em 2014, mas também não se pode esperar muito mais.
Fonte: O Globo, 08/08/2013
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