Qualquer pessoa razoavelmente bem informada sobre as realidades da terra no Brasil sabe muito bem, e há muito tempo, que poucas coisas são tão estúpidas no imaginário mundial quanto a crença de que a agricultura e a pecuária brasileira “destroem” a natureza. Na verdade, quando mais bem instruída é a cabeça, mais espessa é sua ignorância sobre o assunto – e quanto maior a ignorância, mais alta é a sua voz e mais escandalizada a sua indignação. O fato, no fim das contas, é que as pessoas razoavelmente bem informadas sobre o agronegócio brasileiro são poucas; no Brasil, então, praticamente não existem fora do ambiente diretamente ligado ao trabalho e à produção no campo. As grandes autoridades nos problemas ecológicos supostamente ligados à agricultura, aqui, são a modelo Gisele Bündchen e similares; quando Gisele abre a boca para falar alguma coisa sobre o tema, o governo treme. A mídia reproduz suas afirmações como uma “denúncia”, sem a mais remota preocupação em saber se aquilo faz algum nexo lógico. Na verdade, qualquer idiota que tiver carteirinha de “artista” e disser que o país está sendo destruído pela soja e pelo frango tem a seu dispor espaço imediato e ilimitado em nossos órgãos de informação. Se disser que a culpa de tudo é “do Temer”, então, é só correr para o abraço.
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É natural, assim, que tenha passado praticamente sem registro o último estudo em profundidade da NASA e do USGS, o Serviço Geológico dos Estados Unidos, que mapeou por satélite, hectare por hectare, as áreas utilizadas para cultivo no mundo inteiro. Ao lado de pesquisadores do Global Food Security Analisys da ONU, a agência espacial e o serviço de geologia dos Estados Unidos revelaram que o Brasil é um dos países mais eficientes do mundo na relação agricultura-natureza – produz muito alimento em pouca terra e, em consequência, consegue preservar áreas extensas de vegetação e ambiente naturais. Os números, mais uma vez, revelam o contrário das crendices: as lavouras ocupam menos de 8% do território do Brasil. A Índia ocupa 60%; os Estados Unidos, onde estão os maiores críticos do agronegócio brasileiro, utilizam 18% de sua terra com a atividade rural, ou mais do que o dobro do Brasil. Da Europa, então, melhor nem falar: “área verde”, ali, é pouco mais que o jardim público e as árvores plantadas para fazer sombra nas ruas. Verde natural, mesmo, é com o Brasil – a vegetação nativa, aqui, cobre mais de 65% do território nacional, ou dois terços de todo o país.
Os dados são resultado de trabalho feito por profissionais, com a utilização da mais avançada tecnologia disponível. Não são palpite de ativistas ecológicos baseados na pura fé, ou na safadeza. Também não são propaganda da “bancada ruralista”. Vão no sentido exatamente contrário ao que pregam os lobbys agrícolas americanos, que gastam milhões de dólares combatendo o agronegócio brasileiro, com o seu lema “fazendas aqui, florestas lá”; têm a colaboração entusiasmada dos “militantes” brasileiros do verde. Para quem trabalha no campo, naturalmente, as informações da NASA não chegam a ser uma surpresa. Batem com os levantamentos mais recentes da Embrapa, com diferenças de 0,2%. Além disso, o agricultor e o pecuarista sabem muito bem, pelo que veem com os seus próprios olhos, sem a ajuda de satélites, qual é a situação real das terras que cultivam. Mas a verdade, nessa questão toda, é o que menos interessa. A “preservação da natureza” virou uma religião, com dogmas que estão acima da discussão racional e que têm de ser obedecidos sem nenhum questionamento. Ou o sujeito acredita, mesmo que não tenha um miligrama de informação sobre o assunto, ou é carimbado como defensor dos “agrotóxicos”, inimigo da alimentação saudável, capitalista selvagem, perseguidor de “camponeses” e cúmplice do “trabalho escravo” – além, é claro, de fascista e eleitor “do Bolsonaro”.
Não perca seu tempo com essa gente.
Fonte: “Veja”, 10/05/2018