Desde pequeno, cresci ouvindo que deveria estudar muito para entrar em uma boa universidade, conseguir um bom emprego (preferencialmente em um grande banco ou concurso), alcançar a tão almejada estabilidade e contar os dias para chegar a aposentadoria. Lá seria quando poderia desfrutar de tudo o que a vida tinha a oferecer.
Ao mesmo tempo em que, quando ainda jovem, olhava para os “adultos” da época que haviam escolhido este caminho tradicional e via pessoas infelizes, trabalhando no que não gostavam, contando os dias para o final de semana e próximo feriado.
Fazia sentido uma vida assim?
Isso de fato me intrigou e me fez buscar cada vez mais informação sobre biografias e histórias de pessoas que buscaram caminhos diferentes destes.
Aqui comecei a enfrentar o primeiro e grande dilema, motivo de constantes discussões familiares. Não queria mais estudar (dentro da sala de aula tradicional), quanto mais eu aprendia sobre pessoas e empreendedores de sucesso que buscaram caminhos alternativos de vida, menos interesse tinha pelo modelo e conteúdo da educação tradicional, afinal, ele preparava e formava para um único caminho, aquele que não queria seguir.
Aos 21, resolvi abandonar a faculdade e me dedicar aos negócios, conciliando sempre leitura e caminhos alternativos de aprendizagem.
Muitas pessoas na época (e até hoje) me perguntam se não pretendo voltar a estudar, como se estudar estivesse relacionado com estar dentro de uma sala de aula. Aprendemos em todos os lugares!
Se pudesse voltar atrás, teria tomado essa decisão ainda antes. Não que recomendo que todas as pessoas devam fazer o mesmo, mas sim, que se façam um questionamento saudável, sincero, a respeito disso. Antes de escolher o caminho, você precisa identificar o seu propósito de vida, o que você quer de fato. Decisão nada fácil, ainda mais na idade de incertezas que exige tais definições.
Este talvez seja o ponto principal da mensagem, no momento que estamos vivendo hoje, existem diferentes caminhos, tanto em relação a educação como trabalho, não apenas um único ou melhor caminho como nos foi ensinado desde pequeno. Nem melhor nem pior, apenas diferentes. Quando você descobre o seu propósito de vida, você tem condições de escolher os caminhos necessários para realização desse propósito e não do que a sociedade imprime como correto.
No meu caso, o caminho que escolhi para empreender, não exigia o modelo de educação tradicional, muito pelo contrário, existiam outros mais eficientes e baratos a seguir.
O caminho que ainda sigo e não tem ponto de chegada, é um processo que chamo de educação autodidata. Estudo e prática em sintonia sempre, até o último dia de sua vida.
Vamos viver por 80 ou 100 anos, não é mais possível achar que cinco anos dentro de uma sala de aula seriam suficientes para te preparar durante todo esse caminho.
Os últimos dez anos mudaram de forma assustadora diversos negócios, trabalhos, produtos e modelos tradicionais, mas nossa educação continua a mesma de 100 anos atrás.
O mais bacana do processo de educação autodidata é que você descobre que a escola da vida é seu maior professor, que você não tem e nunca terá todas as respostas e a melhor forma de aprender é fazendo.
Aos 21 anos de idade, reprovado no ensino médio, eu não tinha terminado a faculdade, não tinha dinheiro, nem contatos, foi a primeira grande experiência nesse sentido.
Havia acabado de entrar como trainee em uma corretora de investimentos e minha função inicial se concentrava na área educacional. Na prática, significava trazer pessoas para palestras e cursos, com objetivo final de tornarem-se clientes da corretora.
Depois de três meses na função, recebi o convite para me tornar sócio desta empresa de educação. Como não concordava com muito da metodologia de ensino empregada, senti que esse seria o momento de montar minha própria empresa de educação, independente e desvinculada da corretora, não precisava mais estar lá dentro.
Aqui estava o primeiro problema. Como um rapaz naquela idade e condições poderia ensinar alguém sobre educação financeira e investimento? Não ia rolar.
Pensando em abandonar a ideia, fui a uma palestra do que era considerado o maior especialidade em educação financeira do País, com vários livros publicados. Três minutos antes de iniciar sua palestra, consegui conversar rapidamente com ele e contar sobre meu projeto.
Passada a palestra e algumas trocas de e-mails, não é que o cara aceitou? Surgia ali a primeira franquia de educação financeira do Brasil. Em menos de um ano, abrimos mais de 30 franquias de norte a sul e tivemos uma grande repercussão na mídia.
Tudo parecia bem mas, como história de empreendedor nunca é em linha reta, sempre tem um monte de problemas durante o caminho.
O sócio resolveu sair do negócio, por diferença de objetivos. Como a empresa era grande parte baseada em sua pessoa, seria ali o fim. Em uma ação beirando o desespero, comecei a entrar em contato com outros autores e nomes consagrados do mercado, não só de educação financeira, mas de vendas, liderança, empreendedorismo e outros temas relacionados.
Esse grande problema, que me tirou muitas noites de sono, me fez entender que desafios são indispensáveis justamente para mudarmos o rumo dos negócios e despertarmos para novos caminhos.
Hoje este negócio está baseado totalmente na internet, com uma proposta de se tornar um MBA Empreendedor, com cursos de diferentes nomes e empreendedores consagrados. E, mais importante do que isso, abriu portas para outros novos negócios e me possibilitou publicar um livro.
Vejo muitas pessoas hoje com medo de tentar empreender ou começar um novo projeto, achando sempre que são despreparadas, que não é o momento, que estão novas ou velhas, que não têm o conhecimento necessário ou recurso financeiro. Mas o grande problema na verdade está na inércia em começar e dar o primeiro passo.
Quando você sai dos bastidores e entra em campo, indiferente do resultado alcançado, você além de aprender o que nenhum MBA seria capaz de proporcionar, abre portas para novos contatos, novas experiências e oportunidades, que não aconteceriam se você não estive lá naquele momento.
Depois de dez anos empreendendo, errando e estudando empreendedores de sucesso, resolvi compartilhar um pouco disso no livro O que a escola não nos ensina, publicado pela Alta Books no início deste ano e que conta com a participação de mais de 30 empreendedores e autores de sucesso. Meu objetivo foi condensar habilidades que não aprendemos na sala de aula e que precisamos desenvolver, bem como desmistificar os diferentes caminhos de educação.
Hoje tenho quatro negócios nas áreas de educação, tecnologia, saúde e social, escrevo em vários canais e ministro palestras em diversos eventos pelo Brasil. Mas esse é o lado “bom”, o que a mídia tradicional mostra. Tem muito problema durante o caminho e faço questão de mostrar o processo de construção de cada negócio em minhas palestras.
Todos os meus negócios nasceram de problemas, mudaram muito durante o caminho, continuam mudando, tiveram altos e baixos, sócios que entraram e saíram.
Alguns deles naturalmente vão desaparecer nos próximos anos e outros novos vão surgir.
Costumo dizer que a função do empreendedor é resolver problemas. O que faço na prática é isso, identifico problemas e conecto as pessoas certas para ajudarem a resolvê-lo. Isso por ventura pode se tornar um negócio ou o processo pode abrir porta para outros negócios, que nem imaginava ou simplesmente uma grande fonte de aprendizado.
O fracasso é um processo natural no desenvolvimento, principalmente no empreendedorismo. Infelizmente no Brasil, ainda temos uma imagem equivocada daquele cara que tentou e não conseguiu. O próprio modelo de educação atual repele o erro, já que somos reprimidos quando tiramos notas baixas ou não acertamos determinada questão.
Quando entendemos, internamente, que os fracassos são etapas naturais na vida de qualquer empreendedor, aceitamos que não existem super-heróis ou fórmula mágica para o sucesso. O sucesso inspira, mas somente o fracasso ensina de fato.
Fonte: Draft, 15/12/2015
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