Dez adolescentes de Goiânia criaram um aplicativo que monitora focos suspeitos de febre amarela e, com isso, foram selecionados para representar o Brasil em um torneio internacional de robótica na sede da Nasa, nos Estados Unidos. O grupo ficou em primeiro lugar no campeonato nacional da Lego depois de desenvolver a ferramenta para celular e um robô que desempenha, sozinho, 16 funções em menos de três minutos (veja vídeo aqui).
O professor José Nazaré Júnior, coordenador do projeto de robótica da escola Sesi da Vila Canaã, na capital, diz que se sente orgulhoso com o resultado do trabalho dos alunos. Segundo ele, o objetivo foi criar, além do trabalho lúdico com os robôs, uma ferramenta que protegesse os macacos, que, para ele, servem como barreira da febre amarela para o ser humano.
“Já é notório que os animais protegem as pessoas da febre amarela. Então, a ideia foi criar um aplicativo integrado com os centros de zoonoses para que, assim que algum macaco for encontrado morto em algum lugar, o órgão seja imediatamente notificado para apurar se há ou não a presença do vírus naquela região. Desenvolvemos esta ideia junto com os alunos e foi um sucesso, não tínhamos noção da repercussão”, disse ao G1.
O aplicativo Sentinelas foi criado pelos estudantes em agosto do ano passado e já é utilizado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia. A ferramenta é gratuita e está disponível na loja de aplicativos de aparelhos com sistema Android. A interface do app é dividida em três partes, uma para conscientização sobre a doença, com todas as informações a respeito do vírus, uma com a notificação, para envio das fotos, e outra sobre como prevenir a febre amarela.
De acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES), três pessoas morreram no ano passado em virtude da doença. Segundo o órgão, nenhum caso da doença com contaminação em Goiás foi confirmado este ano.
A Superintendência de Vigilância Sanitária (Suvisa) informou ao G1 que entre 2007 e 2016 foram registrados 675 notificações do vírus em macacos no estado, destas apenas 25 casos da doença foram confirmados nos primatas.
Em nota enviada ao G1, a Coordenação Estadual de Zoonoses informou que acompanhar os casos de suspeita de febre amarela em macacos “tem como objetivo a prevenção de casos humanos de febre amarela através da identificação precoce da circulação viral na população de macacos doentes ou mortos”.
A estudante Maria Eduarda Silva Caetano, de 15 anos, está no 1º ano do ensino médio e participou da elaboração e da concepção do Sentinelas. Ela afirma que, por meio dele, é possível criar alertas e tirar todas as dúvidas sobre o vírus.
“Nele podemos ver todas as informações, vídeos, reportagens e gráficos sobre a febre amarela, como que se infecta, os efeitos do vírus no nosso organismo e como se prevenir. As fotos que são enviadas para o centro de zoonoses vão com a localização e, assim, eles já podem apurar”, contou.
First Lego League
A turma garantiu a participação no torneio Mountain State Invitational, na Nasa, com o título de campeã da First Lego League etapa nacional, que aconteceu em Brasília no último fim de semana. O tema da competição deste ano foi “Animal allies”, em português, “os animais aliados”. O objetivo, segundo o professor, foi representar a relação harmônica entre os homens e a natureza.
De acordo com José Nazaré Júnior, participantes de todo o país foram avaliados sob quatro aspectos: desempenho do robô, comportamento e capacidade de trabalho em equipe, programação e, por último, pesquisa e utilidade para a comunidade. “Cada ano em um tema e o deste ano caiu como uma luva para a gente. Demos nosso melhor e fomos bem avaliados sob todos os aspectos”, comemorou.
Primeiro, os alunos foram desafiados a fazer um robô feito de lego, programá-lo no computador durante as aulas de informática e fazê-lo praticar tarefas que fizessem menção a uma convivência harmônica do homem, representado pelo robô, e a natureza, por animais e plantas montados com peças de Lego. Os alunos do Sesi ficaram em primeiro lugar depois que o robô criado por eles desempenhou dezesseis funções em menos de dois minutos e meio.
O estudante João Victor Fonseca Querino, de 13 anos, é um dos operadores do robô feito pela turma dele. Ele conta que o tempo limite para o robô realizar todas as tarefas é de dois minutos e meio. “Cada tarefa que ele faz representa pontos, quanto mais pontos fizermos, melhor saímos no torneio na categoria desempenho”, disse.
O grupo também foi bem avaliado no comportamento e desenvolvimento de trabalho em grupo e na programação do robô que garantiu que o equipamento desempenhasse bem as funções. A unanimidade na competição veio depois que o público conheceu o projeto de pesquisa e contribuição para a sociedade, apresentado no aplicativo Sentinelas.
“Nada para representar melhor a situação harmônica entre os animais e a natureza do que este fato tão simbólico do macaco servir como defesa ao ser humano. Por isso fizemos este aplicativo, para mostrar que o ser humano deve proteger os animais, assim como eles nos protegem, desta forma, como o próprio tema da competição sugeriu, seremos sempre aliados”, contou.
Com o título de campeã, a turma garantiu a participação no torneio mundial, que acontece do dia 7 ao dia 9 de julho deste ano, na cidade de Fairmont, nos Estados Unidos.
A competição, que vai avaliar projetos de alunos do mundo todo sob os mesmos aspectos da First Lego League, será realizada na Central de Lançamento Espacial da Nasa. A viagem e a hospedagem serão custeadas pela escola.
O professor conta que, apesar da turma já ter participado de várias viagens para torneios de robótica, a expectativa com esta viagem está grande. “Vai ser bem legal, espero que a gente traga mais um troféu para o Brasil”, disse João Victor.
Robótica na escola
As aulas de robótica fazem parte da rotina dos estudantes do ensino fundamental e do ensino médio no Sesi da Vila Canaã. De acordo com Nazário Júnior, o trabalho com as peças de Lego aliadas à tecnologia é feito de forma multidisciplinar há quatro anos na unidade.
“Para as aulas de física, por exemplo, utilizamos o robô para calcular a velocidade média. Eles, a partir da experiência real proporcionada pela tecnologia, tem a oportunidade aplicar os conhecimentos aprendidos na sala de aula. Tudo de uma forma mais divertida e que ajuda na apreensão do conteúdo”, disse o professor.
Maria Eduarda é uma das veteranas do projeto. Ela faz parte das atividades desde os 12 anos e não pretende deixar de participar. “Estou no primeiro ano do ensino médio, já estou desde o início e quero ficar aqui até o fim. Eu ajudo mais na pesquisa do que na programação, mas acho tudo legal”, disse.
Fonte: G1.
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