Matheus Silva, hoje aos 26 anos, queria empreender para “resolver um problema significativo” na sociedade.
Vindo de família humilde no interior da Paraíba, ele foi o primeiro a cursar o Ensino Superior depois que, ainda muito jovem, ganhou uma bolsa da Fundação Lemann para estudar engenharia química e economia nos Estados Unidos.
Depois de se formar, em 2016, o paraibano foi trabalhar na consultoria McKinsey. Mas já sabia que, ora ou outra, iria empreender. E o momento veio quase dois anos depois da formatura: o jovem ligou para dois amigos — seus futuros sócios — e os convenceu de que “era hora”. E que o setor escolhido seria a saúde.
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Assim nasceu a Cuidas, fundada por Matheus e os amigos e sócios Deborah Alves e João Henrique Vogel (os dois últimos formados em Harvard, também nos EUA).
Lançada no ano passado, a empresa quer inovar no setor de saúde privada oferecendo uma espécie de plano de saúde corporativo mais “acessível”.
O diferencial é levar médicos do tipo clínico-geral para atenderem no próprio local de trabalho dos funcionários. O foco são consultas preventivas e mais básicas, por uma equipe sem médicos especialistas.
Se o caso precisar de exames ou médicos mais avançados, é encaminhado a outro serviço.
“Em muitos casos, não necessariamente faz muito sentido ter um médico para cada pedaço do corpo e que não conversam entre si. Acreditamos que há uma maneira melhor, mais focada na prevenção”, diz o fundador.
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O objetivo do modelo é tornar o plano mais atrativo pelo valor, tanto para a empresa quanto para os funcionários. A coparticipação para o funcionário, por exemplo, tem um valor quase simbólico, de R$ 5 a R$ 15 por consulta. Já as empresas pagam taxas de menos de R$ 100 mensais por funcionário, e o plano chega a custar um décimo dos convênios tradicionais.
O serviço é direcionado a pequenas e médias empresas, muitas que, de outra forma, não teriam condições de bancar um bom plano para os colaboradores.
Com pouco mais de seis meses de operação e operando apenas em São Paulo, a Cuidas tem em seu portfólio clientes como a padaria Benjamin, com mais de 40 unidades em São Paulo.
A Cuidas já recebeu investimento de fundos como Innova Capital e Bridge One, e de altos executivos de empresas como Nubank e Guiabolso. Para 2019, o plano é crescer de forma “exponencial”, segundo Silva. A empresa não abre o número de clientes atendidos e nem o aporte total que recebeu dos investidores.
Um setor que pode fazer melhor
A Cuidas surfa na onda de inovação de um setor que é deficiente tanto no sistema público quanto no privado.
Uma pesquisa feita pelo Datafolha em julho de 2018 e encomendada pela Associação Paulista de Medicina mostrou que 96% dos usuários de São Paulo haviam tido problemas com seus planos nos últimos dois anos.
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A demora para marcar consultas foi uma das campeãs de reclamação, assim como as longas horas de espera no pronto atendimento.
No fim de 2018, 47,4 milhões de brasileiros dispunham de um plano de saúde, 3 milhões de clientes a menos em comparação a 2014, segundo a Associação Nacional de Saúde Complementar (ANS).
Fatores como a crise, o desemprego e as altas taxas prejudicaram o setor. Mas, com essa brecha, empresas como a Dr. Consulta, que oferece consultas mais baratas com médicos particulares para quem não tem plano de saúde, já vêm inovando na área.
Com os três fundadores jovens, formados no exterior e tendo trabalhado em empresas conhecidas pela inovação – como a Quora e a Kraft Heinz -, a Cuidas quer aproveitar o momento. Hoje, 67% dos usuários de planos de saúde está no âmbito corporativo, e a empresa quer se mostrar a parte desta clientela.
“A gente viu aqui uma oportunidade muito interessante de servir um público que ou não é servido, ou é servido de maneira muito ruim”, diz Silva.
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Apesar da falta de especialistas, o fundador defende que a Cuidas deve proporcionar um atendimento mais personalizado, com foco no paciente e sem a espera e demora dos consultórios tradicionais.
O resultado vai além da economia, segundo a empresa: em 2018, a Cuidas resolveu 93% dos casos que chegaram a ela. “E isso cobrando uma fração do que o plano de saúde cobra”, diz Silva. São oito médicos na equipe da Cuidas, com formação em instituições como a USP, Sírio Libanês e Albert Eistein.
Fonte: “Pequenas Empresas & Grandes Negócios”