Os estudantes Fernando Ochman, de 17 anos, Mario Riguzzi, de 16, e Nicholas Masagão, de 16 anos, sempre estudaram nos melhores colégios, com os melhores professores e até fizeram estágio no exterior. A experiência dos amigos fez com que chegassem à conclusão de que deveriam retribuir. Foi assim que criaram, no ano passado, um projeto para ensinar empreendedorismo a outros estudantes da mesma idade, no bairro do Campo Limpo, periferia da zona sul de São Paulo.
Chamada de Futuros Empreendedores do Brasil, ou simplesmente FEB, a proposta levou a 20 adolescentes da região a oportunidade de aprenderem conceitos básicos de como se abrir um negócio e como gerenciá-lo na prática. As aulas, que acontecem uma vez por semana, aos sábados, são em uma casa da ONG Arrastão, entidade que dá suporte a famílias em condição de pobreza no bairro.
“Sempre estudamos juntos em uma escola privada e viemos de famílias privilegiadas. Tivemos o desejo de ajudar as pessoas que não tiveram a mesma oportunidade que a gente”, disse Ochman ao “Estado”.
De conteúdo próprio, o curso ganhou apoio de vários empresários, além da experiência adquirida pelos jovens. “Tivemos a experiência de falar com esses empresários e fazer alguns cursos nos Estados Unidos, além do estágio, antes de começar o curso”, ressaltou.
Temas complexos como economia e negócios sempre foram tratados no colégio em que os jovens estudam, a Escola Graduada de São Paulo, na Vila Andrade, zona sul da capital. A ajuda dos pais também influenciou a decisão. “Desde os 13 anos acompanho meu pai em reuniões de negócios”, ressaltou o jovem. “Vejo o business como uma coisa importante no Brasil. Por que não começar a ensinar também?”
Conteúdo
Masagão conta que a maior parte do público do curso se encontra entre 16 e 18 anos, além de “alguns mais velhos”, todos da escola pública. “Eles iam para ter o conteúdo que não viam na escola, um complemento”, diz.
A surpresa dos alunos era descobrir que os professores tinham a mesma idade deles. “Eles se sentiam muito mais à vontade. Não viam a gente como alguém superior, mas de igual para igual. Não havia tensão”, ressaltou.
As aulas iam além da simples apresentação de slides. Envolviam também rodas de conversa entre alunos e professores, além do compartilhamento de experiências de vida.
Em cada encontro, uma área do conhecimento era abordada, como mercado financeiro, notícias relevantes da economia daquela semana ou até explicação de conceitos básicos sobre economia. O foco dos alunos, segundo contam os professores, era tirar dúvidas sobre como abrir o próprio negócio. “No primeiro dia, por exemplo, um dos alunos disse que queria abrir uma pizzaria. E então falamos em como criar o próprio negócio, com instruções de como gerenciá-lo”, contou.
Continuidade
O sucesso do trabalho foi tanto que o grupo decidiu prorrogar a iniciativa por mais um ano. A nova turma terá aulas a partir do próximo mês. “Quando o curso estava chegando ao fim, muitos perguntaram se daríamos alguma outra aula. Isso foi muito importante para mim. Deu para ver que estavam estudando, que absorveram as informações”, disse Riguzzi.
A nova aposta do grupo é organizar visita dos estudantes do curso às empresas, para que conheçam as diferentes oportunidades do mercado de trabalho. “Achamos muito importante ver o dia a dia em uma empresa. Conseguimos contato com algumas e já teve turma que fez a visita neste ano. Eles falam com os chefes de cada setor e entendem como funciona, o que cada funcionário teve de estudar, quanto ganham, o que fizeram para chegar ali. É um complemento para as aulas”, destacou Ochman.
Experiência
A estudante Gabriela Oliveira Laranjeira Silva, de 17 anos, foi uma das que participaram da primeira turma do curso. A moradora do Campo Limpo disse que sempre faz cursos quando tem disponibilidade e se interessou muito pelo tema assim que ficou sabendo da possibilidade de participar das aulas. “Como eu pretendo abrir meu próprio negócio no futuro, foi ótimo”, destaca.
A jovem, que ainda não sabe exatamente em que profissão vai atuar, conta que quer fazer faculdade de Rádio e TV, mas, paralelamente, abrir um restaurante ou lanchonete no futuro. “Gosto muito de gastronomia.” A vontade vem de família – os pais já tiveram um comércio e um primo tem um restaurante no mesmo bairro.
Gabriela destacou que as aulas trataram da bolsa de valores às formas de como abrir um comércio, com muitas dinâmicas em sala. “É aprendizado para levar tanto para o pessoal quanto profissional. No pessoal, aprendi a controlar minhas dívidas e meu salário.”
Contou ainda sobre a oportunidade de ter participado do curso. “Foi gratificante para mim e acho que para eles também. Falta oportunidade para muita gente. Mas também é preciso ter interesse das pessoas de procurar atividades, participar”, afirmou.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”.
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