Juros e câmbio, que sempre aparecem juntos e quase sempre em campos opostos em qualquer debate sobre a economia brasileira, ganham destaque nesta edição do “Brasil Econômico”.
Na reunião que a presidente Dilma Rousseff e alguns de seus principais ministros tiveram ontem em Brasília com um grupo de 27 dos maiores empresários do país, o câmbio mereceu destaque especial – a ponto de o ministro da Fazenda Guido Mantega ter dito depois do encontro que essa é uma questão crucial para o país.
“O real não pode se valorizar pois, se não, a mercadoria brasileira fica mais cara”, disse ele.
O ministro está certo. O problema é que a maior explicação para a procura exagerada do mercado brasileiro pelos investidores estrangeiros – o que ajuda a explicar a apreciação do real perante o dólar – são os juros estabelecidos pelo governo.
Hoje, a taxa básica Selic está em 9,75% ao ano e pode baixar para 9% na próxima reunião do Copom. Num momento em que os títulos do governo americano rendem juros de mais ou menos 0,25% e outros governos sólidos estão pagando perto de zero por seus papéis, é lógico que os investidores farão o que estiver a seu alcance para trazer seu dinheiro ao Brasil.
E, quanto mais dinheiro chegar, mais medidas o governo terá de adotar para evitar a valorização excessiva da moeda brasileira.
Não seria mais fácil puxar os juros para baixo e, assim, fazer o interesse do investidor estrangeiro pelo Brasil arrefecer um pouco?
Infelizmente, não é tão simples assim – conforme se discutiu na semana passada num debate que reuniu seis economistas do primeiro time na redação do Brasil Econômico (veja reportagem em Destaque na edição desta sexta-feira). Existem alguns fatores tão grudados à cultura econômica brasileira que dificultam de forma assustadora a redução das taxas.
Um desses fatores é a indexação – uma invenção brasileira que veio ao mundo no tempo da inflação elevada e que, quase 20 anos depois da decretação do Plano Real, ainda está presente na maioria dos contratos do país.
Desde os mais simples, como o dos aluguéis residenciais, aos mais complexos, como os das concessões de rodovias e energia elétrica. O outro fator, por mais prosaico que possa parecer, é a velha caderneta de poupança.
Principal destino do pé de meia dos brasileiros, a caderneta rende 6% ao ano mais a correção pela TR (olha a indexação aí, gente!). Nessas condições, e em situação de câmbio estável, é mais vantajoso aplicar dinheiro na caderneta brasileira do que num título do governo americano.
Ou seja: se o país quer mesmo derrubar os juros, terá que enfrentar o ônus político de discutir a caderneta de poupança. Será que alguém está disposto a isso?
Discutir questões como essas e mostrar suas implicações sobre o mercado real é obrigação de um jornal dedicado à economia e aos negócios. O debate que tratou dos juros foi o primeiro de uma série que o Brasil Econômico promoverá ao longo dos próximos meses em torno dos grandes temas da economia do país.
A intenção é oferecer a nossos leitores um painel vivo das ideias e das soluções para problemas que afetam a produção, a comercialização, o nível de emprego, os preços e uma série de assuntos que dizem respeito ao dia a dia das pessoas.
Fonte: Brasil Econômico, 23/03/2012
O brasileiro comum, o cidadão previdente e poupador sempre é a grande vitima dos males que, absolutamente, nao causou. Com seu dinheirinho aplicado na Caderneta de Poupança , que sempre pagou as menores taxas do mercado, sem contar os efeitos da manipulação das taxas de inflação, agora se vê como o vilão e causador de todos os males que afligem nossa economia. O afunilamento compreendido pela queda das taxas Selic( que com todos sabemos não é o que paga nossa população ) e a forçada de barra nas taxas de câmbio, que reduz o valor internacional de nosso património, transferindo-o para os meios e produção nacional que todos sabemos já foi chamuscado pel dragão asiático . Um país que defende multi nacionais como se fossem empresas brasileiras , esta caçando sem cachorro! O que o governo busca, orientado pela industria aqui instalada é evitar a invasão de nosso mercado! Competir lá fora? Piada!