[notas sobre um debate que não existiu – II]
A réplica de Kabengele Munanga (veja o post anterior) é um texto raro. O pensamento racialista no Brasil geralmente aparece envelopado em linguagem deliberadamente equívoca, apresentando-se como um programa de redenção social. Nesse caso, porém, temos uma exposição franca das derivações de uma doutrina que interpreta a história como um drama protagonizado pelas raças.
Munanga escreve: “Entrando na vida privada, gostaria que o sociólogo soubesse que tenho um filho e uma neta mestiços que (…) são educados para assumir sua negritude e evitar assim os graves problemas psicológicos apontados na obra de Eneida de Almeida Dos Reis (…)”.
Cada um educa seus filhos com quer, desde que respeite os direitos legais deles. O antropólogo racialista, segundo ele mesmo, programa seus filhos para serem representantes de uma “raça”. Eu desconfio que o faz em nome de sua própria ideologia. Mas ele declara ser esta uma postura médica, destinada a prevenir a ocorrência dos graves distúrbios psicológicos que imagina andarem junto com a “mescla de raças”.
O “racismo científico” do século XIX enxergava a miscigenação como propulsora de degeneração. A principal justificativa das leis antimiscigenação dos EUA e da Alemanha nazista era evitar a “degeneração racial”. Munanga parece imaginar que “mestiços” tendem à degeneração, mas podem ser “salvos” por uma adequada “educação identitária”. Sinto muito pelos filhos dele, mas isso não é da minha conta. As coisas mudam de figura quando ele projeta aplicar seu bálsamo racial sobre toda a nação.
O antropólogo começa com uma indagação singela: “Eu pergunto se alguém pode se tornar racista pelo simples fato de assumir sua branquitude, amarelitude ou negritude?”.
Tenho duas respostas para isso. A primeira: cada um assume a identidade que quiser, na sua vida privada, e se não tiver coisa melhor para fazer, tem todo o direito de se imaginar ou mesmo se exibir como Homo brancus, Homo amarelus ou Homo negrus. A segunda: na democracia, o Estado não tem o direito de colar rótulos raciais sobre os cidadãos – nem, muito menos, distribuir direitos (no caso, privilégios) segundo tais rótulos.
Depois, como um obcecado, Munanga atribui rótulos raciais aos outros – no caso, a mim. Ele escreve: “Como se identifica então o geógrafo Demétrio: branco, negro, mestiço ou Demétrio indefinido? Pelo que me consta, ele se identifica como branco, mas não aceita que os negros e seus descendentes mestiços se identifiquem como tais e lutem por seus direitos num país onde são as grandes vítimas do racismo.” Bem, Munanga está mal infomado: Demétrio (que não é geógrafo mas sociólogo) jamais se identificou racialmente. Ele não entenderá, mas Demétrio tampouco se identifica como “indefinido”. É que Demétrio despreza a ideia de que as pessoas devam procurar identidades raciais. “(…) não aceita que os negros e seus descendentes mestiços se identifiquem como tais e lutem por seus direitos num país onde são as grandes vítimas do racismo”.
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Munanga pretende utilizar o racismo para produzir uma raça negra autoconsciente. A sua meta, registre-se, não é combater o racismo, mas fabricar a raça. Eu discordo. Acho que o racismo é uma chaga que diminui e desumaniza todos os seres humanos. E que a luta contra essa chaga constitui dever das pessoas de todas as cores.
(Publicado em NoRaceBR)
Demetrio
Falando francamente percorri todos os comentários sobre essa manifestação do Prof kabenguele mas sinceramente ele deu um show em cima do senhor. A grande maioria dos comentários o pabeniza pois voce é um desse brancos classistas conservadores que nunca pensam que um dia um negro poderia ser tão inteligente intelectualmente para acabar com suas leviandades racistas. Demetrio! voce viu ninguem comentou sua manifestação aqui neste blog por que será hein! A sua classe como humano está em extenção e voce está dando apenas os últimos suspiros. As cotas vão existir quer ou não contra a sua vontade e a vontade da mídia racista que te apoia e voce vai passar mal por causa disso! ulalalalalala! Um abraço Demetrio