A projeção do esporte extrapola a disputa esportiva nas grandes competições mundiais. Os exemplos vão das Olimpíadas gregas aos Jogos na Alemanha nazista, o Mundial na Itália de Mussolini, as Olimpíada de Moscou e Pequim.
Por aqui, o governo Vargas fez planejamento de grande porte para sediar a Copa de 1942 e projetar a trajetória de país pobre no início do século em direção a país industrializado e urbanizado.
O projeto foi frustrado pela Segunda Guerra, mas sediamos a primeira Copa do pós-Guerra, como favoritos, em 1950. Na semifinal, goleamos a Espanha, um rival difícil na época, por 6 a 1. Mas subestimamos o Uruguai, ex-campeão mundial, e a derrota no novo Maracanã causou trauma nacional profundo.
O Brasil entrou na Copa de 1954 ainda emocionalmente enfraquecido pelo Maracanazo, com complexo de inferioridade e a impressão de que os jogadores não aguentavam pressão, principalmente ao começar perdendo. Paramos na favorita Hungria, que acabou derrotada por uma Alemanha de menor brilho, mas mais disciplinada.
Chegamos à Copa de 1958 sem grandes pretensões no campo, mas com grande dinamismo fora dele. O Brasil se industrializava. Havia otimismo sob a liderança de Juscelino Kubitschek, que prometia 50 anos em 5. E a grande urbanização fez explodir a prática de futebol, aprimorando e ampliando a oferta de jogadores.
Os primeiro jogos do Mundial da Suécia foram difíceis. Mas a despretensão e o surgimento de jogadores de grande talento permitiram ao técnico Feola lançar na Copa craques como Garrincha, Pelé, Didi, Zagallo, Zito, Djalma Santos etc.
Na final, contra os anfitriões, tivemos momento decisivo para o futebol brasileiro e para o amadurecimento do Brasil como nação da primeira divisão. A Suécia marcou no início, o que era sinal de pânico e desequilíbrio emocional na nossa seleção. Naquele momento, Didi, com determinação e frieza peculiares, caminhou devagar até o gol, pegou a bola do fundo da rede, botou embaixo do braço e andou calmamente ao meio de campo exortando o time a se posicionar e virar o jogo. Zagallo ainda pediu a Didi que se apressasse, mas ele seguiu inabalável. O Brasil não só virou, como aplicou goleada de 5 a 2 –dois gols de Pelé.
Aquilo mudou o futebol brasileiro e o Brasil. Viramos o país do futebol e ganhamos grande lição da seleção.
Quando encaramos os desafios atuais da economia brasileira, é preciso determinação, coragem, confiança e serenidade. Botar a bola no chão, enfrentar os problemas com coragem, tomar as medidas necessárias e mostrar de novo que o Brasil pode não só dar a virada no futebol, como temos feito tantas vezes, mas também voltar a crescer como antes.
Fonte: Folha de S.Paulo, 15/06/2014.
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