Dos 22 deputados federais envolvidos na Operação Lava-Jato incluídos na lista levada pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF), para que sejam investigados, só dois foram eleitos por voto direto. O restante não teve votação suficiente, mas entrou na Câmara graças ao complexo cálculo dos quocientes eleitoral e partidário. Ou seja, a soma dos votos de legenda e os chamados puxadores de voto beneficiaram nomes que passaram a responder à Justiça devido às denúncias que assolam a Petrobras. Para especialistas, o cálculo que levou à eleição da maioria desses parlamentares, um dos temas em discussão na reforma política, gera distorções no sistema representativo.
É o caso do deputado Simão Sessim (PP), que teve apenas 58.825 votos mas foi beneficiado pela coligação PMDB/PP/PSC/PSD/PTB, do Rio de Janeiro. A chapa teve como estrela o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), que recebeu 232.708 votos, e, assim, ajudou a eleger outros parlamentares da coligação. Sessim foi citado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa em depoimentos da Lava-Jato. Segundo Costa, o deputado pediu uma “valiosa ajuda” para indicar uma locadora de veículos de um amigo para “grandes empresas”.
Eleito com menos votos do que o rival
Na lista de Janot, ainda constam dois deputados eleitos pelo chamado cálculo das sobras (José Germano, do PP-RS, com 81.503 votos, e José Mentor, do PT-SP, com 82.368). O sistema de sobras considera o desempenho médio dos partidos e é o fator que mais gera distorção no sistema eleitoral, segundo os especialistas ouvidos por “O Globo”.
O atual cálculo das sobras para definição dos eleitos nas casas legislativas faz com que, no Rio Grande do Sul, o candidato José Fogaça (PMDB-RS), que teve 103.006 votos, cerca de 20 mil a mais do que o parlamentar eleito do PP, ficasse como suplente.
Segundo depoimento do doleiro Alberto Youssef na Lava-Jato, Germano teria recebido dinheiro desviado de contratos da Petrobras por meio de doações oficiais para sua campanha. Além disso, ele é acusado de chefiar um esquema desbaratado em 2007 pela Polícia Federal, durante a Operação Rodin, que desviou R$ 44 milhões do Departamento de Trânsito do governo gaúcho, entre 2003 e 2006, quando era secretário estadual.
Sem limite de siglas na chapa
Em São Paulo, Mendes Thame (PSDB) também ficou como suplente mesmo com 106.676 votos, enquanto Mentor (PT) conseguiu entrar na Câmara beneficiado pelo cálculo das sobras. O petista foi citado na delação premiada de Youssef. Ele teria recebido dinheiro após ordem do ex-deputado André Vargas (sem partido-PR).
— É muito difícil um parlamentar ter votos suficientes para se eleger sozinho. O mais comum é que parlamentares sejam eleitos com os votos da coligação. O cálculo das sobras é um dos fatores que gera distorção na distribuição de cadeiras, além das coligações. Quanto mais partidos se coligam, mais partidos participam da distribuição das sobras. Isso influencia na representatividade dos candidatos — explica o mestre em ciência política pela Universidade de Brasília (UnB) Carlos Nepomuceno.
Atualmente, nas eleições proporcionais (vereador e deputados estadual, federal e distrital), os partidos podem concorrer sozinhos ou em coligação. Não há limite de siglas para uma chapa. Também é possível apresentar mais candidatos do que cadeiras disponíveis. O eleitor pode votar na legenda ou no candidato.
Fonte: O Globo
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