Pois é, acabou. Um mês de (bom) futebol se foi. Como grande fã de copas do mundo, eu adorei assistir a grande parte dos jogos, com belos gols e incontáveis inovações táticas. A vitória da Alemanha coroou um longo trabalho de planejamento de sua federação, que após a derrota na Eurocopa de 2000 resolveu espalhar centros de treinamento de base pelo país. Ao que parece, deu certo. Seis dos jogadores presentes na final do Maracanã haviam sido campeões europeus “sub-21” anos antes. As lições da Copa para o Brasil, desse modo, se dão tanto dentro quanto fora de campo. Fica o questionamento: conseguiremos reaver os investimentos feitos na Copa? A bola agora está com o eleitor.
Na semana passada eu participei de uma discussão sobre os legados da Copa fora de campo, promovido pela fundação alemã Konrad Adenauer. O principal legado, citado pela maioria dos presentes, foi o impacto positivo sobre a imagem do Brasil no exterior. As expectativas antes do evento eram as piores possíveis, devidamente desmontadas logo no início. A sensação que fica, desse modo, é que o país não é tão ruim assim. Como podemos tirar proveito disso nos próximos anos?
O nosso país, infelizmente, é visto como um destino exótico. Recebemos cerca de seis milhões de turistas todos os anos – Paris, sozinha, recebe quase 10. A realização da Copa, bem como da Olimpíada em 2016, tem o poder de aumentar esse número ao longo da década. O que pode ter impactos positivos sobre o setor de serviços, responsável por cerca de 70% de nossa economia. Ou seja, não vai faltar demanda: será que estaremos prontos?
A inflação de serviços, o sintoma clássico do descolamento entre oferta e demanda, tem sido de 8%, em média, nos últimos anos. Um número elevado e que expõe nossas fraquezas. Para tornar o Brasil um país competitivo nesse setor, é preciso um amplo e complexo trabalho de profissionalização, seja em melhores práticas organizacionais, seja em melhor formação da mão de obra. Problemas, claro, que afugentam toda a economia.
A infraestrutura, nesse ponto, precisa melhorar muito. O turista que desembarca em algum aeroporto brasileiro fica atônito com a falta de informação e com a inexistência de uma malha minimamente razoável de transporte público. Metrô? Trem? Há cidades brasileiras que nem ônibus possuem na entrada dos aeroportos! Turistas do mundo todo que nos visitam são expostos à falta de sinalização em inglês, para que possam seguir viagem, conhecendo nossas paisagens maravilhosas.
Nesse contexto, para que consigamos tornar o país competitivo no setor de serviços – bem como na indústria e na agropecuária – um trabalho sério precisa ser feito na infraestrutura. Precisamos parar com o estadismo pronunciado do eleitor médio e sermos mais pragmáticos: é necessário aprovar um marco regulatório definitivo, para que investimentos privados (domésticos ou estrangeiros) sejam feitos em logística e energia, notadamente. Ademais, o aumento da produtividade da economia perpassa a aprovação urgente de reformas estruturais (jurídica, política, tributária, trabalhista, dentre outras). Precisamos cobrar dos nossos candidatos propostas claras nesses dois campos.
Tanto uma quanto outra exigem que o próximo presidente e o próximo Congresso estejam imbuídos do espírito de modernização. O legado da Copa, isto é, a imagem positiva do Brasil no exterior, só será cooptado se conseguirmos executar no período mais curto possível essa carta de intenções. Sem melhoria na infraestrutura ou sem reformas estruturais, continuaremos sendo um país exótico, destinado a turistas aventureiros. Será isso que queremos? O eleitor, e ninguém mais, é quem decidirá o que vamos ser.
O Brasil não está minimamente preparado para ser um destino turístico de eleição, embora tenha todas as potencialidade para atingir esse patamar.