Existe uma semelhança incrível entre a Seleção Brasileira, essa que disputa a Copa América, e a tal reforma fiscal levada adiante pelo ministro Joaquim Levy. Explica-se. Depois do desempenho bisonho do time de Luiz Felipe Scolari no último Mundial, a torcida esperava uma mudança profunda na organização do nosso futebol. No calor da derrota, muito se falou, muito se prometeu — e ficou a impressão de que não restaria pedra sobre pedra da antiga organização do esporte no país. Na hora do vamos ver, no entanto, percebe-se que as mudanças foram pífias e geraram um time parecido com o de Felipão. E o que se vê no time treinado por Dunga (desde a convocação até a postura dos jogadores em campo) é uma incompetência semelhante à que levou ao vexame histórico diante da Alemanha.
[su_quote]O que o ministro está fazendo é um remendo fiscal[/su_quote]
Onde está a semelhança com a reforma de Levy? Bem, depois do forrobodó fiscal tocado pelo ex-ministro Guido Mantega no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (cujo resultado está para a economia brasileira assim como aqueles 7 a 1 estão para o futebol), prometeram-se mundos e fundos para colocar as contas públicas em ordem. O novo técnico chegou com um discurso duro, garantindo a austeridade necessária para colocar ordem na bagunça. Mas o que se vê na Esplanada é um time perdidão. Um time que não sabe o que fazer com a bola nos pés e quer se livrar de seus problemas com chutões para frente. Exatamente como a seleção de Dunga nos campos do Chile.
Falta esquema de jogo
A Seleção de Dunga culpa a arbitragem por seus tropeços. O time de Levy joga sobre o Congresso a responsabilidade por sua paralisia. Tudo bem: nem os árbitros são santos nem os chefes de nosso legislativo são flores que se cheirem. Mas uns e outros não causariam embaraços se os propósitos das equipes (tanto a do futebol quanto a da economia) fossem claros e elas estivessem talhadas para vencer. Não estão. Uma reforma que mereça este nome é algo muito mais sério e profundo do que meras elevações de impostos e promessas nunca cumpridas de seriedade no gasto do dinheiro do povo. Longe de promover uma transformação virtuosa na forma de lidar com o dinheiro, as medidas do ministro não passam de improvisações fiscais que buscam única e tão somente evitar que a vaca vá para o brejo antes do final do primeiro tempo.
Cabo de vassoura
OK. Mais de uma vez já se falou neste espaço que as providências de Levy são melhores do que deixar tudo como estava e que a substituição do ministro por outro técnico, neste momento, pode ser trágica — mil vezes mais trágica do que seria para a Seleção a troca de Dunga por um cabo de vassoura. É a mais pura verdade. Mas sejamos sinceros: o que o ministro está fazendo é um remendo fiscal, jamais uma reforma. Falta esquema de jogo. Falta saber alcançar o gol.
P.S.
O time de Dunga pode até ganhar o torneio, embora isso seja improvável. Dilma, da mesma forma, pode eleger seu sucessor daqui a três anos e meio — embora isso seja mais improvável ainda. Mas é evidente que a sociedade já se deu conta que um e outra são incapazes de produzir uma solução de longo prazo para os problemas que têm nas mãos.
Fonte: Hoje em Dia, 21/06/2015.
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