O que mais impressionou nesta recente estória do Santander não foi o relatório publicado em si, que nenhuma novidade trouxe. É praticamente consenso de mercado que, quando Dilma cai nas pesquisas, a Bolsa sobe, estimulada em grande parte pelas ações das estatais, principalmente Petrobrás e Eletrobrás. E, normalmente, quando a bolsa sobe, o dólar cai. Nenhuma novidade.
O que impressionou, isto sim, foi a reação do governo, que mais uma vez, por questões políticas, interferiu nos negócios de empresas privadas, como ocorreu, de forma escandalosa, na retirada de Roger Agnelli da Vale, em 2011. E a reação do Santander, através de seu presidente mundial, Emilio Botin, que pediu desculpas ao governo brasileiro e se comprometeu a demitir todos os envolvidos na elaboração do relatório – e demitiu. Covarde reação!
Mais ainda: a presidente Dilma se manifestou publicamente contra a publicação do relatório, e deixou em aberto a possibilidade de retaliação, declarando que tomará uma atitude “bastante clara” em relação ao Santander. Não se sabe ainda qual seria esta, mas sabe-se que o presidente mundial do Santander tentou entrar em contato com a presidente Dilma algumas vezes, aparentemente sem sucesso. Sabe-se também da reação do ex-presidente Lula, segundo quem “não tem lugar no mundo onde o Santander esteja ganhando mais dinheiro que no Brasil”. O ex-presidente ainda mandou um recado ao presidente do banco, “essa moça que falou [isso] não entende p**** nenhuma de Brasil e de governo Dilma Rousseff. Manter uma mulher dessas em cargo de chefia é sinceramente… Pode mandar embora e dar o bônus dela pra mim”. Não se sabe ainda sobre o bônus, mas sabe-se que a demissão foi consumada. Nome dela: Sinara Polycarpo Figueiredo.
Não vi na parte publicada do relatório nenhum “partidarismo político”, como sugeriu o governo, mas sim uma análise objetiva: se Dilma se estabilizar nas pesquisas eleitorais e/ou voltar a subir, a bolsa deve cair. Simples assim. E como diversos outros analistas, de outras instituições, já vêm dizendo há algum tempo.
Resta saber qual será a reação do governo, portanto, frente a outros relatórios que serão emitidos por diversas instituições financeiras e empresas de consultoria independentes quanto ao atual momento da economia brasileira – notadamente ruim – e a inevitável melhora e/ou piora esperada pelo mercado diante de pesquisas eleitorais e do panorama político provável. O FMI, por exemplo, divulgou esta semana relatório em que critica as contas externas do Brasil, a que o governo, na figura do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, classificou como “equivocado”, dizendo que “não faz sentido a conclusão deste relatório”. O Deutsche Bank também recomendou a seus clientes reduzir sua exposição ao Brasil, rebaixando a classificação dos títulos brasileiros de “neutro” para “underweight“, alegando para isto, como uma das maiores razões, a possibilidade de reeleição da presidente Dilma. E, certamente, muitos outros virão, principalmente de fora do país, e terão ampla repercussão por aqui.
De qualquer forma, acho que, como em qualquer lugar do mundo onde a imprensa e as empresas têm liberdade de expressão, a imprensa e as empresas têm todo o direito de se manifestar, inclusive politicamente. A “The Economist” escolhe candidatos em eleições no mundo inteiro, bem como “The New York Times” , ” The Washington Post” etc., só para citar alguns. E no Brasil não deveria ser diferente! “O Globo”, “Exame”, “Veja”, “Piauí” etc., deveriam ter toda a liberdade de expressar SIM suas preferências políticas. E quem discordar das posições das publicações mencionadas que publique outra com posições adversas.
Inaceitável, isto sim, é, principalmente, pessoas que se dizem de “esquerda” (o que, por definição, já diz estarem ultrapassadas, até porque boa parte dos cientistas políticos já não mais considera esta segmentação entre direita e esquerda apropriada), e que, entre outros tantos, lutaram por liberdade durante o período de ditadura política no Brasil, caracterizado por censura e falta de liberdade de imprensa, ficarem criticando a imprensa existente – algumas, inclusive, que já foram consideradas de “esquerda”, como a “Folha de São Paulo” -, que deveria ser livre, ao invés de produzir uma publicação aceitável e de grande circulação (coisa que se conquista por credibilidade ao longo do tempo) com as ideias que defendem. Afinal de contas, o que seria de uma “Fox News”, notadamente de viés Republicano (do partido Republicano dos EUA), ou de uma “MSNBC”, de viés Democrata (do partido Democrata dos EUA), no Brasil?
Não à toa, o Brasil está mal no índice do Repórteres Sem Fronteiras no ranking de liberdade de imprensa, em 111o (de 180), próximo a países como Venezuela, Bolívia, Cuba, onde, notadamente, a imprensa não é livre. É claro que o índice se agrava por violências contra a imprensa, como a que ocorreu com o cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes, mas boa parte dele é resultado da liberdade de expressão, direito garantido na Constituição. Por favor.
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