Estive na semana passada na Romênia, num encontro do grupo Atlantis, que reúne ex-ministros de educação para pensar em agendas conjuntas e aconselhar novos titulares das pastas. Além de funções protocolares, como visitar o presidente da República e aproveitar para instá-lo a ser um defensor da causa da educação de qualidade, e de interessantes discussões sobre o futuro da aprendizagem, aprovamos uma declaração sobre o Dia Internacional dos Professores.
No texto, lembramos que o mundo tem apenas dez anos para cumprir o compromisso de assegurar educação equitativa e de qualidade para todos, conforme pactuado por 194 países nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, e que isso demanda ouvir os professores para resolver a grave crise de aprendizagem que vivemos na educação básica. Afinal, mais de 617 milhões de crianças e jovens, no mundo todo, não alcançam, de acordo com a Unesco, níveis mínimos de desempenho em leitura e matemática.
Segundo os ex-ministros reunidos em Bucareste, a solução passa por boas políticas públicas e, sobretudo, por tratar os professores como profissionais. Infelizmente, como mostra pesquisa da Fundação Varkey em 35 países, os professores não contam com um status social elevado, nem com remunerações à altura da sua escolaridade e do trabalho que realizam, o que resulta em baixa atratividade da carreira.
Isso também é verdadeiro no Brasil. Para resolver nossa grave crise de aprendizagem, algumas medidas já vêm sendo tomadas, como a elaboração de uma Base Nacional Comum Curricular, sua tradução em currículos subnacionais e, mais recentemente, a proposta do Conselho Nacional de Educação de novas diretrizes para a profissão docente.
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Nesta terça-feira (8), ocorreu uma consulta pública sobre essas diretrizes e, ao longo dos últimos dias, artigos de jornal apareceram discutindo aspectos do documento que deve nortear a elaboração de currículos para as instituições de ensino superior que formam professores. Um deles traz uma afirmação que me chamou atenção: bastaria tornar o acesso aos cursos mais seletivo que o problema de aprendizagem estaria resolvido. Ora, isso seria o equivalente a se dizer que, já que os exames de acesso a cursos de medicina são desafiadores, não seria necessário pensar no que é ensinado aos futuros médicos.
Na verdade, precisamos dos dois: tanto de maior atratividade da carreira, inclusive por meio de efetiva seletividade no acesso aos cursos de pedagogia e licenciaturas, quanto de currículos que, de fato, preparem para a prática, se quisermos contar com os melhores professores. Com a palavra, os docentes!
Fonte: “Folha de São Paulo”, 11/10/2019