“Em meio a todas as exações do governo, o capital foi acumulado silenciosa e gradualmente pela frugalidade privada e pela boa conduta dos indivíduos, por seus esforços universais, contínuos e ininterruptos para melhorar sua própria condição. É esse esforço, protegido por lei e possibilitado pela liberdade de utilizá-lo da maneira mais vantajosa, que manteve o progresso da Inglaterra em direção à opulência e melhoria em quase todos os tempos anteriores … ” (Adam Smith)
Apesar da revolta e do medo de alguns (como a jovem Greta Thumberg) em relação ao futuro, estamos vivendo numa época com os melhores padrões de vida humana da história. A pobreza extrema caiu abaixo de 10% da população mundial pela primeira vez (veja gráfico abaixo). A expectativa de vida mundial aumentou para níveis impensáveis há apenas dois séculos. A mortalidade infantil caiu para níveis mínimos e a fome, exceto por alguns poucos países africanos e raros rincões da Terra, praticamente se extinguiu; doenças que outrora dizimavam milhões, como malária, poliomielite e doenças cardíacas estão em declínio.
Essas são realizações admiráveis da espécie humana. Há muito o que fazer ainda, evidentemente, mas nada justifica o pessimismo de alguns em relação ao futuro.
Diante de tudo isso, a pergunta óbvia é: o que causou essa grande explosão de prosperidade nos últimos dois séculos e meio (veja gráfico acima)?
A resposta mais comum é a tecnologia, mas esta resposta provavelmente está errada.
A tecnologia claramente avançou ao longo dos últimos séculos e, felizmente, continua a avançar, pois seus progressos são indispensáveis ao nosso modo de vida moderno. Mas a causa mais profunda do enriquecimento generalizado não foi a tecnologia, e sim a força que libera e direciona a energia humana necessária para produzir os avanços tecnológicos e seus frutos: o sistema de liberdade natural, de que falava Adam Smith*.
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A evidência mais clara de que a liberdade e os mercados livres – além de instituições bem configuradas que protejam esta liberdade, a propriedade privada, a execução dos contratos e, last but not least, a vida e a integridade física dos indivíduos – são mais fundamentais que a tecnologia para a prosperidade está no fato de que bilhões de pessoas, ainda hoje, permanecem desesperadamente pobres.
Pessoas na África ou em países comunistas, como Coréia do Norte, onde não existe liberdade, estão morrendo de fome mesmo hoje, embora o conhecimento técnico para cultivar e distribuir alimentos básicos esteja prontamente disponível em todo o mundo. Além disso, inúmeras outras pessoas ainda vivem em cabanas de barro, não têm água encanada, morrem de malária e sofrem todo tipo de outras indignidades e perigos que seriam facilmente evitados com as tecnologias comuns existentes.
É totalmente errado sugerir que a tecnologia é a razão de nossa prosperidade. Claramente, algo mais deve estar presente – algo que promova o avanço tecnológico e, ainda mais importante, incentive o uso do conhecimento tecnológico para produzir e tornar amplamente disponíveis os bens e serviços que hoje muitos de nós temos como garantidos. E esse algo é o modelo de organização econômico e social que se convencionou chamar de capitalismo de mercado, e que Adam Smith chamou de ‘Sistema de Liberdade Natural’, o único sistema que proporciona os incentivos para a divisão e especialização do trabalho em larga escala.
Conforme descrito pelo Instituto Cato, “Os pilares da liberdade econômica são a escolha pessoal, o intercâmbio voluntário, a liberdade de competir e a segurança de propriedades particulares”. E, como mostrado repetidamente por pesquisadores que estudam a relação entre prosperidade e liberdade econômica, quanto maior a liberdade econômica, maior e mais difundida é a prosperidade.
(*) “Portanto, sendo todos os sistemas de preferência ou de restrição completamente retirados, o sistema óbvio e simples da liberdade natural se estabelece por si próprio. Todo homem, contanto que não viole as leis da justiça, fica perfeitamente livre para perseguir seu próprio interesse à sua maneira, bem como para colocar sua indústria e capital em concorrência com os de qualquer outro homem ou ordem de homens. O soberano fica completamente dispensado de um dever…: o dever de supervisionar a indústria de pessoas privadas e de direcioná-la para os empregos mais adequados ao interesse da sociedade.
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De acordo com o sistema de liberdade natural, o soberano tem apenas três deveres a cumprir; três deveres de grande importância, de fato, mas claros e inteligíveis para entendimentos comuns: primeiro, o dever de proteger a sociedade da violência e invasão de outras sociedades independentes; segundo, o dever de proteger, tanto quanto possível, todos os membros da sociedade da injustiça ou opressão de todos os outros membros, ou o dever de estabelecer uma administração exata da justiça; e, terceiro, o dever de erigir e manter certas obras públicas e certas instituições públicas, que nunca podem ser do interesse de qualquer indivíduo, ou pequeno número de indivíduos, erigir e manter;” (A Riqueza das Nações – IV 9)