Por Otto Guevara Guth
Tradução do Espanhol: Álvaro Pedreira de Cerqueira
Palestra pronunciada no XXII Forum da Liberdade em Porto Alegre, com o tema ‘Cultura da Liberdade’, em 6 e 7 de Abril, de 2009. Realização do Instituto de Estudos Empresariais – IEE.
Otto Guevara Guth nasceu em 13 de outubro de 1960. Diplomado em Direito pela Universidade da Costa Rica e com MBA com ênfase em Negócios Internacionais pela National University of San Diego, Califórnia (campus da Costa Rica) e mestrado em Direito (LLM) com ênfase em Resolução de Conflitos pela Harvard University. É candidato a Presidente da Costa Rica nas próximas eleições.
(Nota do Trad.: Ele me disse que não tem qualquer parentesco com Che Guevara. Brincando, disse-me que é ‘El Otro Guevara’ , em trocadilho com seu próprio prenome.)
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Também aumentam as chances de que outros países “paguem com a mesma moeda”, e pouco a pouco isso gere um efeito dominó em que as nações entrem numa guerra comercial. Isolados os países, eliminado o comércio entre eles, haverá uma maior propensão para iniciar-se uma guerra de uns contra os outros. Perde-se a paz.
As consequências involuntárias do protecionismo podem ser resumidas assim: a estrada para o inferno está pavimentada de boas intenções. Os resultados, apesar dos louváveis objetivos esperados do protecionismo, são devastadores. Aumenta a pobreza, pela destruição de riqueza e da forma de criá-la.
Há outro ditado cheio de sabedoria, que diz que aqueles que não analisam a história estão condenados a repeti-la. Se olharmos para trás e observarmos a história da humanidade, poderemos encontrar inúmeros exemplos das consequências involuntárias e nefastas do protecionismo. Entre estes exemplos está a Grande Depressão da década de 30, em que os governantes da época optaram pela solução do protecionismo, aplicando muitas das ferramentas acima mencionadas.
Resultado: prolongamento da crise, extensão dela a outros países, guerra comercial, pobreza, regulamentação que asfixiou a indústria e a demora de décadas para recuperação da economia. Além disso, a história da América Latina está cheia de exemplos de protecionismo que ainda hoje estão em vigor, e explicam claramente a pobreza que se verifica em nosso subcontinente.
O que faz hoje o governo Obama parece seguir os mesmos passos de muitos de nossos países. Os Estados Unidos estão se latinoamericanizando.
Isto nos leva necessariamente a perguntar por quê, apesar dos efeitos nocivos do protecionismo – cujos fracassos a história demonstra assaz claramente -, muitas pessoas e líderes políticos insistem em adotá-lo novamente nesses tempos de crise?
Algumas respostas que podemos testar são as seguintes:
1 – Grupos ávidos por conquistar privilégios, ou defender os seus interesses às custas do bem-estar da maioria, aproveitam a situação de crise para tentar convencer os que decidem, no governo, a tomar algumas medidas protecionistas. Sob a alegação de que o custo dessas medidas muitas vezes se dilui entre todos os consumidores, o que não encoraja nenhum deles a reclamar compensação, nos serviços de proteção ao consumidor, pelo incremento de preço de algum artigo no mercado.
2 – Os benefícios do livre comércio, que é o oposto do protecionismo, são distribuídos entre todos os agentes econômicos na sociedade, e por vezes são difíceis de quantificar. Ou, seu benefício é relativamente baixo, embora os custos sejam concentrados e, em geral, de fácil identificação. Assim como seria instantânea a percepção do fechamento de uma indústria, por não poder competir com produtos mais baratos e de melhor qualidade fabricados em outro país. Este empresário e seus trabalhadores são fáceis de identificar, e se tornam objeto de pollticas públicas para tentar obter seu apoio para aqueles que estão no poder e assim possam nele permanecer.
3 – O comércio é um fenômeno global, e a polltica é nacional. Se o desemprego aumenta devido à concorrência de produtos melhores e mais baratos fabricados em outro país, a pressão política é para resolver o problema corrente, argumentando que se está defendendo os postos de trabalho no seu país e não se quer facilitar a exportação de empregos.
4 – Por último, o que poderia ser chamado de “ignorância bem-intencionada” sobre as consequências do protecionismo por parte da maioria das pessoas que hoje são a favor de alguma forma de proteção. Porém, mais importante ainda é a ignorância bastante generalizada sobre como criar riqueza.
Se o protecionismo cria pobreza e destroi riqueza, além da forma de criá-la, a pergunta necessária então é: como criar riqueza?
Para isso, devemos antes de tudo compreender que todos os seres humanos precisam consumir bens e serviços para a sua subsistência e bem-estar. Temos necessidades de consumo que podem ser resolvidas de forma autossuficiente, em que cada pessoa usa a sua inteligência, suas habilidades e meios existentes para produzir, cada um por si, tudo que se precisa para viver; ou em cooperação com outros. O ser humano resolveu essas necessidades, cada um por si mesmo, até que descobriu [com Adam Smith – N. do T.] o princípio da especialização e do intercâmbio, segundo o qual duas ou mais pessoas podem resolver melhor suas necessidades de consumo se, em vez de produzirem tudo o que desejam consumir, cada uma emprega seus recursos e esforços para produzir os bens e serviços que possa produzir melhor e, em seguida, troca-os por bens produzidos por outros, e que sejam oferecidos em condições vantajosas para ela.
A ampla aplicação generalizada deste sistema dá vida ao princípio da especialização e do intercâmbio, uma intricada rede de interrelações e interdependências, em que cada pessoa produz um bem, ou muito poucos, e adquire, para seu consumo, todos os outros através do processo de troca.
(Continua)
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