Eu não queimo livros. Não queimaria nem o “Minha Luta” de Hitler. A melhor maneira de destruir uma ideia contida neles é lê-los e criticá-la. Acho estúpido, mas não posso admitir que se diga que não se pode queimá-los. Agora tiro o chapéu para Obama, que parece ter persuadido o pastor. Bem, talvez seja ingenuidade minha e quem pode, realmente, ter saído ganhando nesta é o guia de uma igrejinha pouco conhecida. Não sei. Só sei que estes fundamentalistas islâmicos já nos encurralaram. Com certeza eu não tenho o perfil de um político hábil para lidar com isto, não tenho mesmo. Cansa, isto cansa. O que será daqui a pouco? Vão proibir que TVs exibam mulheres com véus islâmicos?
Sei que vai parecer extremamente infantil de minha parte, mas quem pensam que são para ditarem lei por aqui? Sim, por aqui, no mundo livre. É desenho animado que não pode citar Maomé, é charge condenada, é escritor banido do convívio público, cineasta assassinado etc. Eu sei; sei que é isso mesmo que eles querem: a provocação que legitime suas ações. Tenho consciência clara disto, mas eles não vão simplesmente parar. E não vão parar também por ações de estado. Refiro-me a ações militares… O que vai mudar é nossa tecnologia de segurança que, tomando consciência de meu wishful thinking, irá avançar. Mas, o fundamental ainda não mudou: o comportamento. Aqui há um pequeno ensaio de para onde e como as coisas deveriam se encaminhar.
Veja que se cede nisto, ao impor uma sanção governamental (o que não foi feito, bem entendido), o passo para proibir a instalação de uma mesquita está dado. E daí, todas outras proibições às inconveniências serão legítimos.
Queimar o Corão em público é provocação do pastor, mas é seu direito provocar. São ambiguidades da democracia, assim como é direito queimar a bandeira deles lá, das estrelas e listras.
O que fariam os muçulmanos se milhões queimassem o Corão? Se as dezenas de milhões lá que portam armas? Se mais milhões aqui no Brasil e alhures? Nada. Eles podem sim nos ameaçar quando há um ou outro, daí faz diferença. Se o mundo ocidental, em peso, aderisse a um gesto de protesto não faria a mesma diferença, pois não haveria mais o foco específico para atacar. Seriam vários e ficaria tudo igual como antes do manifesto, tudo igualmente descentralizado. Imaginemos um vizinho incômodo, truculento e apenas um de nós vai solicitar que diminua seu volume e apanha no rosto. Agora, imagine a rua inteira. É simplismo de minha parte, mas ninguém me tira da cabeça que a mudança de hábitos urbanos, com menos transeuntes nas ruas, deve ter realimentado o ciclo de delinquência responsável pelo aumento da criminalidade. É o fenômeno do “carona” em que todos nós desejamos que alguém faça algo, mas nenhum de nós dá o primeiro passo. Resultado lógico é que nada muda.
Reitero: Obama agiu como deveria sim. Eu faria o mesmo, exceto se em protesto público achasse que conseguiria mobilizar milhões contra suas ameaças, tal como fizeram os espanhóis contra o ETA, como fizeram os sérvios contra a OTAN, colocando chapéus e bonés com alvos pintados. Imagine a vigilância constante sobre mesquitas e sua definição como locais públicos, logo sujeitos a regra comum onde não poderão mais ensinar o ódio ao ocidente, nem traçar ações contra seus próximos alvos. Isto pode não impedi-los de procurar outros locais para confabular, mas com bem mais dificuldade ao ter que se esconder, perdendo tempo e eficácia. Lembremos que a Ku Klux Klan perdeu muito terreno quando, justamente, suas ações, rituais e códigos foram tornados públicos e caíram no conhecimento popular. Os inimigos estão ali, sabemos quem são e como pensam e agem, só restando desnudá-los e difundir detalhes alheios à maioria das pessoas, leigas que são na gênese do ódio. Já tornaram a vida da maioria de nós um inferno, agora só resta fazermos com que se sintam da mesma forma.[1]
A ofensa ainda não foi banalizada. Quando for, o sagrado e o proibido desencantam, perdendo sua força.
[1] Obviamente que não me refiro aos ataques, mas ao medo incutido.
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