A desclassificação do Brasil na Copa do Mundo está envolvida em aspectos culturais que fornecem sinais claros sobre o nosso País. Fomos superados pela quarta vez seguida por nações europeias: França (2006), Holanda (2010), Alemanha (2014) e finalmente a Bélgica (2018). Mas o que isto quer dizer?
Na mesma linha, com a exceção do Brasil (1994, 2002), o último campeão de fora da Europa foi a Argentina (1986). O evidente domínio do futebol europeu é o resultado de ligas fortes, clubes bem estruturados, disciplina e estudos táticos e acompanhamento da evolução do futebol, vetores que estão muito longe da realidade de nosso continente e de nosso país. A Copa Libertadores da América há tempos deixou de incorporar um futebol competitivo que encarava o campeão da Europa. Isto está expresso nos vencedores dos últimos 10 Mundiais de Clubes: Real Madrid (2017/2016), Barcelona (2015), Real Madrid (2014), Bayern de Munique (2013), Barcelona (2011), Internazionale (2010), Barcelona (2009), Manchester United (2008) e Milan (2007). O único intruso entre os europeus foi o Corinthians (2012).
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O futebol não é o mesmo esporte do passado. Hoje a disciplina estratégica, força física e estabilidade emocional são partes essenciais do jogo. Craques com lances de genialidade não são a regra em times competitivos. Estas qualidades desequilibram em situações específicas e excepcionais, mas estão longe de ser definidoras de uma boa equipe. Enquanto isso, no Brasil ainda vivemos a cultura do craque, daquele que define, resolve, “vai pra cima” e em lances geniais define uma partida. Em uma liga como a brasileira, esta cultura encontra eco, mas quando bate de frente com a seriedade e disciplina dos clubes europeus, raramente vence.
Na política, como no esporte, o Brasil segue sua busca incansável por salvadores da pátria. Uma característica presente em nosso continente, algo que vai muito além das quatro linhas. Os resultados políticos, como sabemos são desastrosos. Celeiro de líderes populistas, países do México até a Patagônia, tornaram-se reféns de um modelo que trouxe um legado de subdesenvolvimento e derrotas.
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Portanto, dentro e fora do futebol, já é hora de nos inspirarmos nos vencedores, em políticas reais, racionais e que funcionam em outras nações. Nosso futebol precisa beber na fonte das melhores práticas e deixar de tratar nossos jogadores como meninos iluminados deslumbrados com uma vida de sonhos. Precisamos deixar de justificar nossos fracassos, infantilizar nossos craques e nos tornarmos adultos, em todas as frentes, inclusive na política, evitando que o estado exerça a mesma função e infantilize o cidadão.
Uma solução para nosso futebol? Engolirmos nosso orgulho ferido e importarmos um técnico europeu de primeira linha, que traga para nossa seleção políticas de gestão, conceitos modernos que possa gerir reflexos em nossas ligas e clubes. Na política, assim como no futebol, também chegou o momento de deixarmos de ser reféns do atraso. Acabou a Copa. Ali na frente temos eleições.
Fonte: “O Tempo”, 09/07/2018