Não devemos apressar ações sem que haja o necessário fundamento, pois nosso compromisso deve ser com a aprendizagem dos estudantes.
Os dados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2009, divulgados recentemente pelo MEC (Ministério da Educação), trazem um quadro evolutivo da aprendizagem e da aprovação dos nossos estudantes.
Se, por um lado, a análise dos dados recomenda reflexão, por outro, indica que há o que comemorar no desenvolvimento da educação.
A cautela se justifica pelo imenso desafio que a sociedade brasileira deve vencer nos próximos anos para atingir as metas para a educação básica traçadas até 2021, quando devemos chegar ao patamar que países desenvolvidos já alcançaram em 2003.
O desempenho do ensino médio também exige atenção especial. Se, nas séries iniciais do ensino fundamental, tivemos crescimento do Ideb, as notas do ensino médio seguem praticamente estagnadas.
Dito isso, quais são os motivos de comemoração? O principal é a própria existência do Ideb: ele representa o reforço de uma cultura de avaliação, baseada em objetivos e metas passíveis de acompanhamento não só por especialistas, mas pela sociedade. Para o Todos pela Educação essa é uma conquista que merece ser lembrada, já que não há boa gestão sem avaliação.
Outro fato que não pode deixar de ser celebrado é o resultado dos anos iniciais do ensino fundamental. Nessa etapa do ensino, o índice subiu de 4,2 pontos em 2007 para 4,6 pontos em 2009. E o crescimento foi puxado, principalmente, pela aprendizagem dos alunos na Prova Brasil, e não apenas pelas taxas de aprovação.
Certamente não alcançaríamos esse resultado se não fosse a contribuição direta de professores, diretores e gestores, que focaram o trabalho no alcance das metas traçadas. Se o país persistir nesta rota, nossas crianças terão bom desempenho nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio.
Mas, para prosseguir no caminho das conquistas na aprendizagem, temos de estar atentos aos agentes que interferem nos rumos da educação brasileira.
Ano eleitoral é momento mais que propício para isso, já que a população vai escolher seus representantes e, por consequência, as diretrizes das políticas públicas.
Não podemos aceitar dos próximos governantes uma desaceleração no processo de aprendizagem, porque ela, já sabemos, traz impactos decisivos sobre a vida de nossos jovens e sobre a capacidade produtiva e a competitividade do Brasil.
É preciso que haja, por parte do futuro presidente e dos próximos governadores, compromisso com os avanços que vêm sendo conquistados e com os caminhos sedimentados nos últimos anos.
E também que eles se envolvam na tarefa de acelerar o ritmo de melhoria da educação. Não devemos apressar ações sem o necessário fundamento, pois nosso compromisso deve ser com a aprendizagem dos estudantes. A educação exige urgência, o que é muito diferente de pressa.
Assim como na saúde, não existe uma prioridade única nas políticas de educação. Os problemas decorrem de diversos fatores e são variados os gargalos a serem atacados até a garantia de um direito constitucional: o da educação de qualidade para todas as crianças e jovens. Se observarmos a economia brasileira na última década, podemos constatar que superamos disputas ideológicas e partidárias que, embora legítimas, muitas vezes dificultavam a implantação de medidas econômicas que melhor atendessem aos interesses do país. Isso é o que defendemos na educação.
Fonte: Jornal “Folha de S. Paulo” – 26/08/10
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