Encerrado o processo eleitoral mais interessante dos últimos tempos, podemos tirar conclusões claras das mensagens emitidas pelo eleitor. Antes de qualquer coisa, havia um desejo forte de renovação. Esta tônica abalou as estruturas da política tradicional e também as correlações de poder. Mas este era apenas o primeiro passo. O caminho trilhado pelas urnas deixava claro qual o rumo que o país iria adotar ao final do pleito.
A primeira conclusão é simples. Como escrevi nesta coluna mais de um ano atrás, estávamos diante de um processo eleitoral denso, que encerra um ciclo de 30 anos da política brasileira, iniciado com a redemocratização. Nosso país tem esta característica e produz a cada três décadas uma mudança de fundo nas estruturas de poder. Um processo que começou em 2013, encontrou seu ápice em 2018.
Dentre tantos reflexos que enxergamos neste pleito, vimos o surgimento de um movimento conservador, orgânico e que encontrou respaldo na sociedade. Pela primeira vez em muito tempo a direita conservadora encontrou candidatos que transmitissem suas plataformas e defendessem suas agendas. No mesmo lado, vimos a chegada de uma direita liberal, algo impensado até pouco tempo atrás. Em suma, mais do que qualquer movimento, 2018 serviu como renascimento da direita política.
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Certamente a realidade que se impõe ao novo presidente está inserida dentro desta nova correlação de forças. Temos uma esquerda definida liderada pelo petismo de um lado e uma força localizada na direita liderada pelo conservadorismo. Dentro desta dinâmica, ocorrerão as negociações e a discussão da pauta do novo governo. Um binômio de forças políticas definidas que lutará para atrair os votos de um centro que se tornou um consórcio de poder liderado por partidos médios.
Para além de tudo, 2018 inaugura uma nova forma de fazer política e também de fazer campanha. Algo que já havia ficado claro na disputa local para a prefeitura de Belo Horizonte e que tornou-se uma realidade por todo o país. O tempo de rádio e televisão não garantiu aos donos do mais largo latifúndio qualquer vantagem na disputa. Muito pelo contrário, o destaque foi para o candidato sem tempo de televisão que soube usar as redes sociais a seu favor mudando um importante paradigma das eleições brasileiras.
Este período marca um novo começo, com a quebra de um ciclo que sobreviveu por três décadas. O novo presidente é apenas o amálgama de uma série de insatisfações que fazem parte da vida do brasileiro, pautas difusas e de diversos grupos. Unir estas pautas dentro de uma agenda comum é o grande desafio, deslocando a narrativa para o seu campo. A partir de agora será preciso construir. Um novo caminho, sob novas bases, diante de uma nova realidade. Um novo ciclo se inicia.
Fonte: “O Tempo”, 29/10/2018