Os segredos de gestão das mais bem-sucedidas empresas foram investigados por Jim Collins em “Feitas para durar” (1996), que se tornou um clássico de administração. Uma fórmula de sucesso empresarial deve combinar em doses adequadas continuidade e mudança. Deve ser mantido o que funciona, mas sem abrir mão de experimentações, das tentativas de aperfeiçoamento. Em síntese, “preserve os fundamentos, mas estimule inovações”, receita Collins.
Pois bem, Dilma Rousseff anuncia em seu discurso de posse, na melhor tradição de executivos modernos em cargos de gestão, “um governo de continuidade e mudanças… É preciso manter os fundamentos que nos garantiram chegar até aqui, mas agregar novas ferramentas e novos valores para enfrentar os novos desafios”.
A promessa de continuidade refere-se à manutenção dos fundamentos macroeconômicos responsáveis pelo ambiente de estabilidade que até aqui desfrutamos. Chegamos à responsabilidade fiscal, à autonomia do Banco Central e ao câmbio flexível após longo processo de tentativas e erros. Na área econômica, portanto, deveríamos preservar os fundamentos. As intenções de mudança referem-se à dimensão política. São duas décadas e meia desde a redemocratização, mas a interminável sucessão de escândalos e os infindáveis episódios de corrupção indicam a necessidade de mudanças, de inovações em busca de uma forma mais decente de se fazer política.
Essa exigência da reforma política é também anunciada no discurso de posse da nova presidente: “Na política, é tarefa indeclinável e urgente uma reforma com mudanças na legislação para fazer avançar nossa jovem democracia, fortalecer o sentido programático dos partidos e aperfeiçoar as instituições, restaurando valores e dando mais transparência às atividades públicas.”
Se Dilma pretende mesmo promover reformas, deve investir imediatamente o capital político que lhe foi transferido por Lula por meio das urnas. A presidente terá de tomar a iniciativa, e quanto mais cedo melhor. Como dizia a notável Margaret Thatcher, “esperar o consenso é negar a importância dos líderes”. Pois são compreensíveis as dificuldades da classe política em transpor os obstáculos do corporativismo, da cumplicidade tribal e do código de acomodação entre membros de pequenos bandos. Mas a superação desses fenômenos é incontornável para a consolidação e o bom funcionamento de uma democracia emergente.
Fonte: O Globo, 03/01/2011
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