A presidente Dilma começou a utilizar os mesmos métodos que o seu tutor, o ex-presidente Lula, usava quando não queria resolver os problemas. Quando recebeu a denúncia da existência do mensalão, feita pessoalmente pelo então líder do PTB, Roberto Jefferson, o presidente Lula, em vez de acionar a Polícia Federal ou mandar abrir uma investigação através da Corregedoria Geral da União (CGI), pediu que o líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia, e o ministro das Relações Institucionais, Aldo Rebelo, do PCdoB, investigassem o assunto.
Como era de se esperar, os dois não encontraram qualquer indício do fato, e o assunto morreu até que Roberto Jefferson denunciasse o esquema em uma entrevista à “Folha de S.Paulo”.
No caso do Ministério da Agricultura, feudo do PMDB, onde haveria uma “central de negócios” montada sob a chefia do ministro Wagner Rossi, a mudança de estilo em relação às atitudes que tomou contra a “central de negócios” montada pelo PR no Ministério dos Transportes foi significativa.
Até o momento, a presidente Dilma Rousseff vinha sendo mais diligente com as denúncias de corrupção: prometeu uma faxina “sem limites” no Ministério dos Transportes, dominado pelo PR, e garantiu que qualquer denúncia seria rigorosamente apurada.
É verdade que nenhum dos casos envolvendo corrupção naquele ministério foi descoberto pelos órgãos fiscalizadores do governo, embora a Polícia Federal viesse tratando do assunto há muitos meses, já no governo Lula, quando o esquema dos Transportes foi montado.
A inépcia do governo chegou ao ponto de nomear Marcelino Augusto Rosa para coordenador-geral de Operações Rodoviárias do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), ele que já respondia a processo disciplinar da Controladoria Geral da União (CGU), acusado de favorecimento de empreiteiras, e cuja mulher, Sônia Lado Duarte Rosa, representava empreiteiras em grandes obras.
Os dois eram conhecidos em Brasília como “casal Dnit”, mas foi preciso que “O GLOBO” denunciasse o escândalo dentro do escândalo para que Marcelino fosse demitido horas depois de ter sido nomeado.
De qualquer maneira, o governo vinha agindo rápido, até que o PMDB e, mais que isso, um ministro designado pelo vice-presidente Michel Temer entrassem na roda de denúncias.
Ontem pela manhã, na reunião dos líderes do governo, a presidente não se referiu publicamente às denúncias de que haveria um esquema de corrupção e cobrança de propina no Ministério da Agricultura, comandado pelo ministro Wagner Rossi, apadrinhado de Temer.
A denúncia, no entanto, tem a chancela de um Jucá, sobrenome ilustre do governo, dizem os desafetos que de qualquer governo.
Em vez de explicações, a presidente ouviu pedidos de desculpas do seu líder no Senado, Romero Jucá, que chamou as denúncias do irmão, Oscar Jucá Neto, de “besteiras”.
A conversa de Romero Jucá com Dilma e Temer aconteceu no final da reunião de coordenação do governo, no Palácio do Planalto. A presidente aceitou as desculpas, assim como o vice Temer, e disse que pediria ao próprio ministro da Agricultura que apurasse as denúncias.
Naquele ministério, segundo as denúncias de Jucazinho, o PMDB montou uma “central de negócios”. Seria o mesmo fenômeno constatado no Ministério dos Transportes e que obrigou o governo a fazer a tal “faxina” ilimitada.
Só a postura do governo está sendo diferente. Essa mudança, aliás, já havia sido anunciada dias antes pelo ministro Gilberto Carvalho, talvez o mais ligado ao ex-presidente Lula de todos os remanescentes do antigo governo.
Como se sabe, o ex-presidente Lula vem tentando convencer a presidente Dilma a refrear seu ímpeto moralista em troca da “governabilidade”.
A conversa de Carvalho com os dirigentes petistas tinha o objetivo de acalmá-los diante do que se prenunciava uma lavagem generalizada no Ministério.
Ele garantiu que não haverá “caça às bruxas”, e nem a presidente se deixará levar por denúncias da imprensa. Mas disse que a corrupção não será tolerada.
Evidentemente tinha que dizer algo parecido com isso, se não, ficaria explícito o recado que ele, implicitamente, levou às lideranças petistas e certamente levará aos demais parceiros influentes da aliança governamental, como o PMDB: o governo não pretende atear fogo às próprias vestes, e, portanto, os aliados terão a garantia de não serem atingidos por “fogo amigo” do Palácio do Planalto.
Mas não é possível controlar o “fogo amigo” vindo de dentro da própria base aliada, ou até do mesmo partido, como é o caso agora de Jucazinho, que, posto pelo irmão num feudo do PMDB, agora está fazendo “besteiras” que colocam o irmão em situação delicada.
Interessante nesse episódio é que Romero Jucá, com todo o seu prestígio, não tenha conseguido proteger o irmão.
Tudo indica que a fase da “faxina” está se dissipando como estratégia de governo, ou pelo menos não será utilizada indiscriminadamente em todos os casos de corrupção que surgirem.
O que reforçará a estratégia da oposição, que pretende desconstruir essa ação governamental mostrando-a como apenas uma jogada de marketing e não uma incompatibilidade desta administração com a corrupção ou a impunidade.
Afinal, se a presidente Dilma era realmente a grande controladora da gestão pública no governo Lula, sabe perfeitamente quem é quem no governo e onde estão os problemas que fazem o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) não andar.
Ao contrário, as obras tiveram um rendimento menor nos primeiros meses de governo Dilma, piorando o que já era ruim.
Fonte: O Globo, 02/08/2011
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