Não tem como. Ou o Brasil faz a lição de casa ou não tem jeito – a vaca vai para o brejo! A receita é amarga e, pelo que já foi aplicado, o tratamento será difícil de ser engolido. As doses devem ser bem balanceadas. Qualquer avaliação errada pode agravar o estado do paciente, tanto para mais, como para menos. A maior perversidade foi o aumento na tabela de reajuste do imposto de renda em 4,5% para uma inflação de 6,5%. Isso significa que gente que não paga imposto passará a pagar, enquanto os que já pagam pagarão mais.
Nada de novo debaixo do céu. Faz anos que isso acontece regularmente, numa tungada desonesta do governo no bolso do cidadão. Mas este é apenas um pequeno exemplo do que vem pela frente. Vários impostos estão sendo reintroduzidos ou tendo as alíquotas elevadas. O crédito vai ficar mais caro, a produção não deve subir e, em contrapartida, o IPCA deverá atingir 2% no primeiro bimestre, apontando um aumento real da inflação.
Tanto faz, temos de passar por isso para evitar o pior. Da mesma forma que deveremos pagar mais caro por energia elétrica e combustíveis. Além de corrermos o sério risco de ficar sem água nas regiões mais dinâmicas economicamente.
O cenário é complicado. Se tudo der certo, o ano será menos ruim. A questão é que, para dar certo, a equipe do Ministério da Fazenda tem de ter liberdade absoluta para formular as políticas necessárias para reverter os desmandos praticados no primeiro mandato da presidente, que foi estudante, mas não aprendeu economia. E não há nada que indique que isso é uma certeza. Pelo contrário, o ministro Joaquim Levy já sofreu algumas peitadas e não teve apoio explícito do Palácio do Planalto na defesa das medidas a serem implementadas.
Este rascunho bastante incompleto do que temos pela frente não deixa dúvida de que 2015 será um ano muito mais complicado do que a previsão mais pessimista, de seis meses atrás, poderia imaginar.
[su_quote]No dia a dia das pessoas haverá aumento de desemprego, do custo de vida e da inadimplência, além de queda do consumo e dificuldades financeiras
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No dia a dia das pessoas, teremos aumento de desemprego, queda do consumo, aumento do custo de vida, dificuldades financeiras e aumento da inadimplência. Em outras palavras, o cidadão terá menos dinheiro para fazer frente a despesas das quais ele não pretende abrir mão, por considerá-las indispensáveis para sua vida e de sua família.
Escola particular, plano de saúde privado e despesas com alimentação, energia elétrica, gás, água, internet e telefone com certeza estarão nos primeiros lugares das preocupações da população. E vai acontecer do dinheiro do mês não dar para quitá-las, pelo menos nos patamares atuais.
Cada um sabe de si. Por isso os cortes não serão feitos nas mesmas proporções ou seguindo o mesmo padrão, mas, com certeza, despesas tidas como normais nos últimos anos deixarão de fazer parte da rotina das famílias.
Como se não bastasse, a falta de chuvas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste também deve afetar diretamente a rotina do país.Água e energia elétrica são insumos indispensáveis para a vida. E, em algum momento, terão de ser racionadas, seja pelo aumento de preço, seja pela implantação de rodízios ou outras medidas destinadas a frear a demanda.
Numa visão otimista, a soma é perversa e terá com o resultado um ano difícil para toda a sociedade brasileira. O setor de seguros não será exceção. Não é caso de imaginar a quebra de seguradoras ou grandes dificuldades ameaçando as companhias em operação no Brasil, mas é preciso se ter claro que o crescimento experimentado nos últimos anos é coisa do passado.
Este ano é para profissionais e quem achar que há espaço para milagres corre o risco de se dar mal. Por isso, a maioria dos seguros deve ficar com o desenho de hoje. Por outro lado, ainda que não devam acontecer grandes movimentos patrocinados pelas seguradoras, crise significa também oportunidade.
Pode ser uma boa hora para os corretores de seguros analisarem o seu entorno. Afinal, tem muita coisa que pode ser feita. De produtos novos à reformulação do que existe, há espaço de sobra para pessoas competentes se darem bem.
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/1/2015
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