Não estamos mais na modernidade líquida de Zygmunt Bauman. Estamos imersos na pós-modernidade, na alta modernidade, gasosa. Já que a tudo e a todos penetra e não (o)corre no leito dos rios, o estado da pós-modernidade desafia a lei da gravidade. Inunda planaltos e não corre, necessariamente, para o mar.
Provoca mudanças paradoxais, refletidas em movimentos interessantes. Jeff Bezos, fundador da Amazon, comprou em 2013 o Washington Post, que patinhava em prejuízo, e o transformou em algo lucrativo. A Amazon comprou a cadeia de supermercados natureba Whole Foods e agora abre lojas de livro pelos Estados Unidos.
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É o mundo digital se voltando para o analógico a fim de prosseguir na reinvenção do amanhã, no mesmo instante em que a Barnes & Noble resolve encolher o tamanho de suas lojas e o número de pontos de venda. Jeff Bezos e a Amazon conversam com o passado e aprendem com ele a construir o futuro. Assim caminha a humanidade hoje, entre idas e vindas nos mundos analógico e digital. Entre o sólido, o líquido e o gasoso.
A revolução digital é inexorável, mais intensa e incontornável do que todas as outras. Não necessariamente iluminista ou romântica. Nem tampouco assegurando o fortalecimento do ideal democrático. Mas, certamente, destruindo as crenças e abalando as instituições, como já faz com a Igreja, a imprensa, as forças armadas e, sobretudo, a política e o sistema financeiro.
A política, em particular, está sendo abalada de dentro para fora e de fora para dentro. Não resistirá algumas décadas à frente se não passar por mudanças profundas, que poderão ser realizadas a favor ou contra a sociedade. Considerando a trajetória tupiniquim de prevalência do Estado sobre a sociedade, todo cuidado é pouco. A participação da sociedade será essencial para dizer “não” a ideias ou conceitos totalitários e/ou corporativistas.
No sistema financeiro, o que vem por aí é uma onda, ainda tímida, de “desbancarização”, caracterizada por iniciativas como a da XP, do BTG-Digital e do Nu Bank. E, no mundo da dark web, as várias bitcoins estão em curso.
Devemos tentar perceber com a maior clareza possível a confusão espetacular que os dias de hoje apresentam à humanidade. E não fugir para o passado, nem para dentro de nós mesmos, nem para o futuro, que ainda não existe. O que fazer então? Reconhecer que a revolução é um estado permanente.
Fonte: “IstoÉ!”, 25/01/2018