Provavelmente você já ouviu nomes como Bill Gates, Jeff Bezos, Steve Jobs, e conhece suas histórias. Mas já ouviu nomes como Ramos de Azevedo, Francisco Matarazzo, Laffer-Klabin, José Ermínio de Moraes? Esses são nomes de grandes empreendedores brasileiros.
Jacques Marcovitch, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, defende que é preciso resgatar a história dessas pessoas e conta-las aos estudantes, como forma de incentivar o empreendedorismo no Brasil. “Todo país precisa de mitos, especialmente de mitos positivos, que podem se constituir para nossa juventude em referências”, diz ele.
Com esse objetivo, foi lançado recentemente o livro Pioneirismo e Educação Empreendedora: projetos e iniciativas (disponível para download gratuito aqui), organizado por Marcovitch e Alexandre Macchione Saes.
O material é destinado a professores de escolas públicas, como um subsídio para abordar esse tema em sala de aula. Em entrevista à Pequenas Empresas & Grandes Negócios, Marcovitch falou sobre a importância do empreendedorismo para o desenvolvimento da economia de um país.
Qual a importância de incentivar o empreendedorismo desde cedo para as crianças nas escolas?
É uma questão de valor. A questão é como criar uma identidade de um país novo como o Brasil, e que é resultante de comunidades indígenas mas também de migração e da escravidão. Esse livro procura desenvolver os valores do pioneirismo, da iniciativa, da realização, da construção de um projeto de vida onde é possível mudar o seu entorno.
A ideia é tornar as pessoas mais responsáveis pelo seu próprio destino, para que passem a ser atores na construção não só de seu projeto de vida, mas também com relação ao entorno no qual cada um está inserido.
E a forma de isso, na sua opinião, é contando as histórias dos pioneiros e empreendedores?
Eu penso que todo país precisa de mitos, especialmente de mitos positivos, que podem se constituir para nossa juventude em referências. Daí a importância que nós, a partir de 2001, começamos a pesquisar esses personagens e a ideia desses 24 personagens que estão descritos nos três volumes do livro original, que está no portal pioneiros, a ideia é trazer esses mitos e também reconhecer que o Brasil tem uma história empresarial que merece ser valorizada.
Nós tendemos a repetir sempre os exemplos que vem do exterior, mas queremos demonstrar que o Brasil, desde o final do século XIX e ao longo do século XX, teve empreendedores em todos os Estados do Brasil, começando com o Gerdau lá no Rio Grande do Sul, passando pelos Fontana, depois os Klabin, vindo para São Paulo com os Matarazzo, subindo para os Mascarenhas em Minas Gerais, indo até o Ceará com os Queiróz, o Belmiro Gouveia, os Ermínio de Moraes em Pernambuco, e subindo até o Amazonas com os Benchimol. O Brasil é repleto de exemplos de pioneiros e empreendedores que fizeram uma enorme diferença em termos do desenvolvimento brasileiro.
Qual a importância do empreendedorismo para o desenvolvimento do país?
Qualquer sociedade se desenvolve desde que ela tenha essas figuras de empreendedores que promovem a chamada destruição criativa. É preciso gerar novos paradigmas em todas as áreas. Sem essas figuras de pioneiros, a economia de um país não evolui. A grande empresa desempenha seu papel, mas o que se observa é que a grande empresa muitas vezes tem uma dificuldade maior de inovar e de revolucionar as cadeiras setoriais.
Um dos casos que chama a atenção no livro é o da Padaria e Cantina 14 de Julho. É um negócio familiar, mas o livro diz: “Alexandre Franciulli pode ser comparado a grandes ícones do pioneirismo”. Por que?
É uma pequena empresa, que pouca gente conhece. Não é nenhum desses grandes mitos que acabamos de abordar, mas mostra que no entorno de cada escola, é possível achar uma joia como essa. É uma padaria familiar que está na terceira ou quarta geração, e a família cultiva esse projeto.
Mostra como além das grandes árvores, que todo mundo vê, tem pequenas árvores que são fundamentais. Como qualquer floresta tropical, você precisa de vários níveis de árvores. E aí você tem o exemplo de uma pequena árvore, mas altamente resistente, duradora, e que tem dado frutos e vai continuar dando frutos dada essa identidade familiar.
Quais os desafios para organizar o livro?
Esse foi um projeto de dois anos. Nossa intenção é engajar professores de escolas públicas dentro do projeto pioneiros, que é um projeto de pesquisa, mas também é um projeto expositivo. Nossa ideia é fazer com que os professores estejam preparados para levar seus alunos à exposição no museu da imigração, para preparar os alunos antes da visita e para utilizar os conteúdos depois. Queríamos que os próprios professores fossem os autores, foi um desafio abrir espaço na agenda dos educadores para isso.
O que falta entre os empreendedores brasileiros?
A valorização dos valores. Nesses tempos de grandes mudanças, de grandes transformações, há uma tendência de procurar responder rapidamente a esses riscos, essas oportunidades, ameaças, a esse ambiente externo mutante.
Vamos encontrar com frequência empreendedores que vão abrir mão dos valores para poder lidar com esse entorno em transformação. O que percebemos nos 24 pioneiros que estudamos é o respeito e coerência com relação a valores que foram forjados nas adversidades dos primeiros anos.
Fonte: “Pequenas Empresas & Grandes Negócios”