Uma rebelião eleitoral cruzou a Europa, pondo em xeque as bases da construção política e econômica do pós-guerra. De neonazistas a ultraesquerdistas, partidos extremistas tiveram votações expressivas ao Parlamento Europeu, catapultados pela rejeição ao euro e pelo sentimento anti-imigração – bandeiras estimuladas pelo alto desemprego em alguns países.
O desemprego causado pela crise econômica é acentuado pelo processo de união monetária europeia. O euro teve consequências positivas por muito tempo, mas agora vários países pagam o preço dos excessos do período de bonança e de decisões econômicas que buscam maximizar benefícios imediatos e desconsideram consequências negativas no longo prazo, como vemos também na América Latina.
A grande atração inicial do euro, principalmente nos países mais fracos, foi o aumento da confiança com a adoção de moeda forte, o que trouxe juros menores, grande entrada de crédito, estabilidade cambial e aportes financeiros da União Europeia.
Durante um bom tempo, países como Espanha e Portugal cresceram a taxas aceleradas, com capital barato e farto, já que bancos e investidores partiram do pressuposto de que, com o euro, a qualidade do crédito seria comparável à de países estáveis e rigorosos na gestão macroeconômica, como a Alemanha. Isso criou desequilíbrios estruturais.
De um lado, países que mantiveram políticas macroeconômicas que justificavam juros baixos, como contenção fiscal e alta competitividade; do outro, países com políticas fiscais e creditícias frouxas, que tiveram alta exagerada de consumo e endividamento.
Em economia, tudo se equilibra ao longo do tempo. Políticas governamentais sustentam desequilíbrios temporariamente. A procrastinação de ajustes inevitáveis pode durar anos. Mas o problema do longo prazo é que um dia ele chega. Foi o que aconteceu na Europa, com a exaustão do modelo de consumo baseado em juros artificialmente baratos e aumento de déficits. É preciso agora enfrentar o ajuste.
Mas esses países não podem contar com a desvalorização cambial, o mecanismo natural de ajuste de produtividade, que torna a economia mais competitiva no curto prazo e permite fazer as reformas gradualmente. Sobram apenas mecanismos duros, que geram recessões pesadas, com recuo de salários e custos. A Europa vive essa ressaca, refletida nas eleições. A cura virá com reformas fundamentais na área fiscal e trabalhista, redução da burocracia e aumento da produtividade.
A outra opção é a saída do euro, uma das propostas da rebelião europeia, com todas as suas graves consequências econômicas e políticas.
Mais uma vez, acontecimentos externos oferecem lições importantes ao Brasil.
Fonte: Folha de São Paulo, 1º/6/2014
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