Em que pese a reconhecida vontade do ex-presidente Lula em permanecer no cargo, um de seus maiores legados ao cabo e ao fim terá sido não sucumbir a tentações de se manter ad infinitum no cargo. Essa tendência tão comum na América Latina não resistiu às ainda fortes instituições do país. Mas também vale dizer que fosse o desejo de Lula outro, a história poderia ter sido bem diferente.
Esse ato foi o gesto democrático de quem sempre acreditou que outro caminho seria incongruente com sua própria história. E isso foi outra característica de sua presidência. Domesticamente, foi munido por uma coerência ferrenha em manter uma política monetária independente, mas uma política fiscal claudicante.
Desde o início de seu mandato já se iniciou o processo de desmantelamento da sólida política fiscal anterior, com o começo do processo de contratação em massa no setor público. Essa linha foi seguida ao longo de todo seu governo, com diferentes graus de intensidade em cada momento.
Digo que isso tudo foi coerente com sua história, pois por trás do descontrole dessas políticas estaria o mal maior da inflação. Lula esteve do outro lado do balcão, recebendo salário para sobreviver, e sabe dos malefícios de se ter uma inflação elevada, principalmente para seu maior alvo como presidente, os mais pobres.
O que podemos discutir é se isso foi suficiente e aqui começam os problemas do governo Lula. Não houve ousadia. Foi um arroz com feijão na política econômica e um fortalecimento das políticas sociais.
Com um mundo crescendo como cresceu e a casa arrumada durante anos, foi fácil colocar o país para crescer. E o que não foi suficiente foi esperar por medidas reformantes que trariam mais qualidade e durabilidade para o crescimento.
Optou-se pelo caminho fácil da política fiscal agressiva. Mas de novo, nada diferente do que o PT e Lula sempre acreditaram. Grande parte de sua equipe econômica, a começar da atual presidente, creem piamente que aumento de gastos públicos em tempos sem crise é bom para o crescimento, o que já foi negado inúmeras vezes nos estudos empíricos de economia. Mais ainda, seu foco sempre foi o gasto social, seja Bolsa Família, seja aumento do salário mínimo.
Nesse sentido, Lula se parece mais com Getúlio do que com Juscelino. Foi mais pai dos pobres do que um tocador de obras. Apesar da presença maciça da figura de Vargas, a obra que permanece é a de Kubitschek. A base industrial privada que temos vem desse período.
A presença forte de empresas estatais e leis trabalhistas engessantes vem do getulismo. O legado do mineiro foi sensivelmente mais importante para o país do que o legado do gaúcho. A história contada no futuro poderá colocar Lula de fato ao lado de Vargas com mais ênfase, mas isso não significará nenhum avanço real para a economia brasileira.
Vale notar que Dilma não parece um, nem outro. É mais Dutra do que Getúlio e mais Geisel do que Kubitschek. Mas para o bem do país, seria bom que ela não se parecesse com nenhum deles.
Fonte: Brasil Econômico, 03/12/2011
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