Incluir o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas eleitorais poderia até fazer sentido meses atrás. A esta altura, não faz nenhum, pois o candidato real do PT será o ex-prefeito Fernando Haddad.
Ainda assim, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deverá vetar as pesquisas feitas com o nome de Haddad enquanto não tiver impugnado a candidatura Lula – e o nome de Lula estiver temporariamente registrado como candidato.
Entre o próximo dia 15 e a data da impugnação, prevista para antes do início do horário eleitoral gratuito na TV, no dia 31, o país estará, portanto, diante de uma situação bizarra. O organismo legalmente encarregado de garantir que o cidadão tenha acesso à melhor informação possível sobre o desempenho dos candidatos garantirá a pior possível: pesquisas com um candidato irreal.
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O poder de transferência de votos de Lula para Haddad é uma das maiores incógnitas no cenário eleitoral atual. O PT acredita que. quanto mais estender a pseudo-candidatura de Lula, mais Haddad se beneficiará.
É uma estratégia arriscada, ou mesmo equivocada, já que o eleitor precisa conhecer o candidato real na urna eletrônica para votar, e a campanha terá de ser feita em torno da chapa Haddad-Manuela D’Ávila.
Mesmo que o PT esteja iludido pela manobra de Lula, a manutenção do nome dele nas pesquisas só contribui para reforçar essa estratégia. Na prática, mesmo que por quinze dias, o TSE estará fazendo o jogo do PT.
Como deverão reagir os institutos de pesquisa se forem obrigados a incluir o nome de Lula no lugar de Haddad? Há três alternativas. A primeira é o TSE autorizar a realização de pesquisas em vários cenários até a homologação das candidaturas. Nesse caso, o eleitor teria a pequisa imaginária com Lula, mas não seria privado da informação da situação real, com Haddad.
A segunda alternativa é os institutos deixarem de fazer pesquisa no período, pois o cenário fantasioso contribui apenas para desinformar a população. Nesse caso, só saberia o desempenho dos candidatos quem tivesse acesso às pesquisas privadas realizadas por bancos, corretoras e partidos políticos. O eleitor comum estaria privado da infomação.
A terceira alternativa é fazer as pesquisas como determina o TSE, com o nome registrado na candidatura pelo PT: Lula. Nesse caso, o eleitor teria uma informação que serve apenas ao interesse da campanha petista.
Pesquisas costumam ser criticadas por influir na decisão do eleitor. É uma crítica sem sentido. Saber a posição das candidaturas é um elemento essencial para definir o voto. O eleitor deve conhecer a chance de vitória tanto do candidato que julga ter as melhores propostas quanto dos que julga terem as piores. Evitar que um candidato ruim ganhe pode ser até mais importante que eleger o melhor.
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Por isso mesmo, a informação das pesquisas precisa ser a mais real e fidedigna possível. No Brasil, o TSE tem a incumbência de regular o setor, pois há temor de manipulação. Mas as exigências que faz são genéricas demais. Em países como França ou Alemanha, a rigidez é maior. Métodos, amostras e margens de erro são definidas de modo estatisticamente bem mais preciso.
Nos Estados Unidos, ao contrário, a liberdade é absoluta. Qualquer instituição pode fazer e publicar pesquisas, de acordo com o método que julgar melhor. Nenhuma autoridade do governo regula o setor, embora a associação das empresas de pesquisa de opinião zele pelas melhores práticas de seus integrantes.
O resultado é uma profusão de pesquisas, selecionadas pelo mercado de acordo com a credibilidade e competência de quem faz. Como recomenda a ciência, a melhor fotografia de uma eleição é dada pela média de várias pesquisas, ponderada segundo fatores como data de realização ou viés dos institutos.
Disseminada no exterior, a prática felizmente começa a se disseminar também no Brasil. O pioneiro foi o site Polling Data, do estatístico de Campinas Neale El-Dash, autor de uma tese de doutorado sobre a qualidade das pesquisas no Brasil. Outros modelos foram adotados este ano nos agregadores do sites Jota e Poder360.
Se quiser saber como anda a corrida, o melhor é consultar um desses sites. Mas mesmo eles dependem da qualidade da informação gerada pelos institutos. Como diz o velho provérbio da ciência da computação: “Garbage in, garbage out”. Se um programa é alimentado com dados que são lixo, gerará também um lixo como resultado.
No caso das pesquisa com Lula, o provérbio poderia ser adaptado: “Fantasy in, fantasy out”. Gerar dados que traduzem uma fantasia só contribui para aumentar a fantasia na mente dos eleitores.
Fonte: “G1”, 10/08/2018