Quando um governante tem ampla aprovação popular, decorre daí que está fazendo a coisa certa? Depende do que se entende pela coisa certa, é claro, mas a relação não é direta. É possível que um líder tenha prestígio enquanto faz uma administração absolutamente desastrosa, e isso vale tanto para os eleitos quanto para os ditadores.
O exemplo mais evidente é o de Mao. Até hoje a China reverencia o “grande líder”, que, entretanto, conduziu o País a grandes desastres: fome matando milhões, economia arrasada, assassinatos em massa, torturas. Já a potência econômica de hoje foi fundada por Deng Xiao Ping, aliás, ele próprio prisioneiro durante a revolução cultural maoista. Mas é a imagem de Mao que se vê por toda parte.
Agitação e propaganda são boa parte da explicação. Governantes bem-sucedidos na admiração popular têm isso em comum, a capacidade de falar diretamente às pessoas e vender gato por lebre. Criam slogans simples e de imediata compreensão, lançam um plano atrás do outro, não importa se o primeiro foi simplesmente abandonado. Tudo apoiado pelos instrumentos da propaganda.
Nas ditaduras é mais fácil. Como disse Lula no lançamento de seu balanço, no mundo todo os jornais não falam bem do governo, exceto na China e em Cuba. Verdade. O problema é que Lula fez esse comentário em tom de reclamação, como se, na democracia, com imprensa livre, tivesse que gastar muita energia e dinheiro (pagando publicidade na mídia) para passar a sua verdade.
Mas o fato é que Lula foi muito bem nesse quesito. Passou seu governo inteiro no palanque, anunciando planos e mais planos, metas e mais metas, inaugurando várias vezes a mesma obra. Uma parte da imprensa simplesmente aderiu ou foi obrigada a isso pelo volume das verbas oficiais de publicidade. A imprensa livre e independente, apesar das reclamações do presidente, sempre cobriu essas atividades, o que ampliou os palanques.
A Ferrovia Transnordestina é um caso exemplar: foi lançada e “inaugurada” cinco vezes, sempre apresentada pelo presidente como sua obra especial. Prometida para este final de ano, tem menos de 100 km prontos, para um projeto de quase 3 mil. Nada disso impediu que a obra aparecesse como resultado de sucesso na prestação de contas de Lula, aquela registrada em cartório. Claro que o texto não diz que a obra está pronta, mas, sim, em execução, que foi viabilizada “pela primeira vez”, sem nenhuma referência aos atrasos e problemas que ainda enfrenta.
Ou seja, não é prestação de contas, mas pura propaganda. Lula não perde a oportunidade de alardear sua elevada popularidade, suas virtudes de operário-presidente. Sua turma também. É o maior presidente de todos os tempos, disse uma vez Dilma Rousseff. E, quando criticado por esses excessos, Lula joga na cara dos críticos: o País nunca cresceu tanto, a renda aumentou, a pobreza diminuiu e o mundo respeita o Brasil. Por que ele não pode se vangloriar desses feitos?
Eis a quase-verdade (ou, claro, quase-mentira). É verdade que o País está de novo num bom momento. Mas não é verdadeira a conclusão que Lula tira disso: que isso tudo só está acontecendo porque ele é o presidente.
Basta olhar em volta. Os países emergentes em geral descreveram trajetória igual à brasileira: estabilidade macroeconômica construída nos anos 90 e, especialmente no período 2003/08, os benefícios de uma onda de prosperidade mundial que elevou espetacularmente os preços de nossos produtos de exportação, trazendo abundância de dólares. Na crise do final de 2008/09, o mesmo desempenho: dois ou três meses de recessão, seguidos de forte recuperação, situação atual.
No conjunto, todos os emergentes cresceram forte, acumularam reservas internacionais e têm hoje o mesmo problema da moeda local valorizada (exceto a China, que mantém sua moeda desvalorizada, um caso à parte). Mas reparem: nos anos dourados, 2003/08, o País cresceu menos que os emergentes em geral e menos que a média latino-americana.
Todos reduziram a pobreza e em todos se formaram novas classes médias. E grande parte dos países tem programas sociais tipo Bolsa-Família. O Chile Solidário, por exemplo, para ficar na América Latina.
Mas por que o Brasil se tornou tão festejado no mundo? Ora, porque o Brasil, estável, é um enorme país, de amplas oportunidades econômicas. Isso já aconteceu antes na história deste país. Isso é o lulismo: estabilidade macroeconômica ortodoxa, uma onda mundial favorável, um setor privado (agronegócio e mineração) capaz de atender à demanda global e dinheiro público para gastar com as diversas clientelas, dos mais pobres até as grandes empreiteiras. Um bom momento inflado pelo presidente no palanque.
O problema é que esse tipo de propaganda esconde os problemas. No que o Brasil é diferente dos demais emergentes importantes? É pelo pior: o País continua consumindo mais do que produz, investe menos que a média emergente (sim, com PAC e tudo, continua investindo menos de 20% do PIB), cobra impostos demais de suas empresas e pessoas, tem ainda a taxa de juros mais alta do mundo, um gasto público exagerado e ineficiente, uma bomba-relógio na Previdência.
O governo Lula simplesmente empurrou esses problemas para a frente. Vão cobrar um preço quando o mundo parar de ajudar. Aí surgirá uma nova interpretação da era Lula, assim como da era FHC, um período de reformas que se mostram duradouras.
Lula, claro, não é igual a Mao. Longe, muito longe disso. Há um oceano entre um ditador e um presidente eleito e reeleito. Mas o que têm em comum é a enorme capacidade de formar a opinião pública. Mao, transformando desastre em avanço heroico. Lula, herdando um bom momento, para multiplicá-lo e assumir pessoalmente todos os méritos.
E o presidente Fernando Henrique Cardoso certamente é o nosso Deng.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 20/12/2010
Concordo com sua avaliação. Porém uma questão que me incomada é porque a oposição perdeu três vezes a eleição para um sujeito fanfarrão, manipulador, mentiroso. Porque a oposição não expôs de forma contundente a situação. Se a oposição estivesse no poder será que haveria uma política que permitiria que avançássemos mais que o governo desse enganador?
Não , se a oposição estivesse no poder não avançaríamos mais do que esta cambada , pelo simples fato do sistema estar podre.Se a base é furada , a construção de quem quer que parta ,se fundamentará em vicios limitadores a transformação de fato.
Acredito que de diferente desta cambada , se a oposição fosse situação , teríamos apenas um certo senso de ética e competência teórica.
Sabe por quê?Simplesmente a oposição não apresentou projetos e não chamou o povo para o debate.Não aprendeu nada em todo em esse período,veio com um candidato sem perfil,sem careter e ainda esqueceu de toda sua trajetoria de militante,deu um tiro no próprio pé.
No momento que optaram em mentir,manipular e unir com os piores politicos da ala ultra-conservadora,a oposição decretou sua derrota.
Fábio,
E a situação apresentou qual projeto para a solidez de um Brasil de Verdade?Tem sim , a sorte de possuir um ilusionista como lider ,lulla , somente.
Estamos danados , nós brasileiros, os dois lados , situação e oposição(será oposição?) não estão nem aí com o Brasil e brasileiros , só querem mesmo o poder para poder “ter”.
Você está brincando que a oposição se ligou aos piores politicos brasileiros?Qual o partido que dá guarida para Sarney, Collor, ……………..
2011 está chegando ,
Vê se acorda meu caro amigo:
Estamos(brasileiros) sós.
Olá Regina!Estava sentindo sua falta a respeito dos meus comentários.
Regina,não retiro uma palavra do que disse,indepente de posiçoes ideologica,temos que mudar a cara desse congresso.Colocarmos politicos sérios e sem demagogia e isso vejo tanto de uma lado(governo) e mais ainda da velha-nova oposição.O PSDB,errou sim em escolher os seus aliados,assim como o PT.Mesmo com todos os erros comprovado por esse governo,não sentiria-me confortavel em colocar Serra e seus aliados pois não se comportaram e não souberam fazer uma oposição mais adulta.Moral da matéria:ruim por ruim fico com esse mesmo.
Saudaçoes Vascaínas e um bom 2011!
ps.UM DEBATE É BOM E SALUTAR QUANDO A VERDADE NÃO É ABORTADA!
Um abraço!!
Eu acho uma piada infame a análise de Carlos Alberto Sardenberg e ainda mais os “comentários”. Fernando Henrique Cardoso é o Deng se for o seu, senhor Carlos. O Sr. FHC é uma piada, um velho patético. Não passa respeito e credibilidade nem para o mais crédulo dos cristãos!
É crivel supor que o Brasil estaria melhor sob um regime PSDBista nestes últimos oito anos?? DUVIDO! A gestão tucana é velha conhecida aqui no estado de São Paulo, aonde moro. O que vejo é o trabalhador sendo tratado como um commodity, como um trapo sujo facilmente substituido!
Como os Senhor Sardenberg explica o respaldo do Brasil e da figura do presidente Lula no exterior? Por acaso o senhor Sardenberg nega as universidades que o Lula construiu? Ou nega seu valor? O Sr. também não vê com bons olhos o aumento de crédito? O aumento do consumo da classe C? O Sr. Sardenberg parece esquecer a bela herança que FHC legou-nos não é mesmo?? Se o Brasil não cresceu o que podia crescer mesmo com os ventos favoráveis isto deve-se tão é somente ao árduo trabalho dos tucanos em vender e desmantelar este país!
Sr. Sardenberg quem o senhor almeja enganar? A nós ou a si mesmo? O senhor para mim não passa de uma figura triste, representante de uma classe nojenta e que graças a Deus há um dia de morrer!
TIRANDO A PARTE DE MORRER EU CONCORDO PLENAMENTE COM VC
LUCAS VITAL.RAPAZ ESSE PESSOAL PENSA QUE SOMOS IDIOTAS!
Fabio Nogueira , interessante como gente com pensamento oposto possa se dar bem, não acha?Não desisti de torná-lo um consciente(rsrsrsrs)Quem sabe em 2011 ?
Nenhum partido , nenhum mesmo , anseia algo além do poder .Poder este facilitador de objetivos pessoais, de seus cardeais, nada honrado e patriótico.
Desconstruir este sistema politico podre , e perpetuador do torto caminho que trilhamos , desde sempre, será a única possibilidade de limpar a área ……para construir um Brasil de verdade e não de faz de conta.
Não é ruim, é pior o que aí está imperando.Este é o problema .
Saudações corinthianas (só esta identidade tenho com o cara)
Lucas , você é o puro exemplo da não democracia ,você representa fielmente os sentimentos ditatoriais da cambada, sem respeito as diferenças pela agressividade demonstrada , não humanista – não amar e aceitar o próximo como é – ao desejar que o Sr. Sardenberg ,grande jornalista (independentemente dele estar em desacordo com as suas convicções)e ,a classe dominante, morram.
Universidades construídas por quem dá o exemplo ao povo que a cultura e o preparo formal são balelas e ,dão…
Sr. Sardenberg e também sra. regina helene. Estou lendo meu comentário de alguns anos atrás e notei como era um esquerdopata imbecil. eu costumava ser ateu e comunista hoje eu vejo como Lula é um canalha e essa intervenção estatal toda não só tá acabando comigo hoje em dia mas há de custar muito mais caro no futuro. peço perdão por meu comnetário anterior.