No Brasil, como em qualquer parte do mundo, sempre acontecem escândalos. Mas, em escala industrial como se tem visto de 2003 para cá é algo inédito em nossa história. Desfilam de modo interminável corrupção, nepotismo, patrimonialismo, desfaçatez, ausência de espírito público, males antigos que agora impressionam pela constância. Também é maior o grau de impunidade, coisa só possível por estar a consciência coletiva apática, indiferente, anestesiada pela propaganda governamental intensiva.
Desse modo, os mais recentes vexames que atingiram o presidente do Senado, José Sarney, não incomodaram a maioria. Tampouco causou espanto uniões esdrúxulas como a dos petistas com o senador e ex-presidente Fernando Collor ou a defesa intransigente que Lula da Silva e Dilma Rousseff fizeram de José Sarney, antes chamado de ladrão.
Contudo, o escândalo que envolve Sarney e resvala para outros senadores vem a calhar para o reforço do Executivo, pois diante dos descalabros não tardaram vozes pedindo o fim do Senado enquanto instituição e não punição para os culpados. Em que pese, porém, os espetáculos deprimentes, é lá que se esboça alguma oposição ao Executivo. Foi, por exemplo, no Senado que morreu a famigerada CPMF, que o governo volta e meia tenta ressuscitar. Portanto, o fim do Senado pode ser muito conveniente para o presidente da República e seu governo petista. Melhor que exista apenas a Câmara com os submissos dos mensalões e das falcatruas de toda espécie.
A ausência de uma opinião pública, que se manifeste de modo mais concreto no sentido de ir às ruas mostrar seu repúdio aos abusos do poder é também preocupante em se tratando de nossa política externa. Evidentemente, um povo que não toma conhecimento ou não se importa com o que acontece diante de seu nariz, dificilmente consegue perceber o que vai além de seu quintal. Mas isso não faz com que desapareçam graves problemas externos que acabam por afetar a vida de cada brasileiro.
Aqui não vou detalhar o despudorado entreguismo do governo Lula com relação a Bolívia, ao Paraguai, a Argentina e tantos outros países. Prefiro me deter na Venezuela onde Hugo Chávez, chamado de democrata por Lula da Silva e sempre por este apoiado, vem crescendo em autoritarismo. Chávez também exporta seu modelo socialista para fiéis seguidores latino-americanos e tem no presidente brasileiro preciosa linha auxiliar.
Em suas mais recentes arremetidas contra a liberdade, a democracia, enfim, contra o Estado Democrático de Direito, o caudilho da Venezuela atacou a propriedade privada, o lucro das empresas, a imprensa independente, a autonomia universitária. Incansável na construção de seu poder absoluto, Chávez contará nas eleições legislativas de 2010 com uma lei que distorce a contagem de votos e permite que a bancada governista controle completamente a Assembléia Nacional. Entrementes, o companheiro “democrata” usa largamente a violência de suas milícias e de sua polícia para reprimir qualquer manifestação da oposição, o que inclui o espancamento de jornalistas e estudantes.
Portanto, quando Chávez fala em “socialismo do século 21” não está brincando. Ele está seguindo claramente as trilhas do comunismo que liquidou os organismos da sociedade civil – corporações, associações, Igrejas, poderes locais, opinião pública e outros mais – na medida em que estes constituem formas de fiscalização social do Estado. Sem essas forças organizadas emerge o monopólio do poder estatal, cuja obtenção requer estimular a luta de classes contando-se para isso com o apoio das massas populares seduzidas e alienadas. Ao mesmo tempo, não pode faltar a doutrinação da juventude, pois o jovem é presa fácil das ilusões e do fanatismo. Relembre-se ainda que a doutrina bolchevique exigiu a liquidação da propriedade privada e a estatização das grandes empresas feita através de expropriações.
Para Lula da Silva e demais governos latino-americanos tudo isso deve ser respeitado, pois faz parte da soberania da Venezuela. A soberania só não funciona para a Colômbia quando se trata das bases norte-americanas para o combate às Farc, o que significa combate ao narcotráfico. Não existe também soberania para Honduras, cujo Judiciário depôs o presidente Manuel Zelaya pelo motivo de seus atos inconstitucionais e para impedir que ele instalasse no país o autoritarismo chavista.
Entre as perdas que o Brasil vem sofrendo por conta da “generosidade” do governo, uma questão gravíssima deve ser ressaltada: o narcotráfico, aceito por Hugo Chávez, Rafael Correa e Evo Morales na medida em que são grandes amigos das Farc. O narcotráfico, como se sabe, é uma das principais causas da violência urbana, do poder paralelo da bandidagem, do aniquilamento de tantas vidas, do sofrimento e destruição de numerosas famílias.
Então, já está mais do que na hora de Lula da Silva deixar de ser linha auxiliar de Chávez e coordenar junto com o presidente colombiano, Álvaro Uribe, o combate ao narcotráfico. Se isto é querer muito fica aqui ao menos o alerta para a sociedade civil.
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