Nos dias de hoje, diante de tanta informação e desinformação, é muito fácil ver-se rodeado de um discurso econômico pobre, frágil e irreal. O excesso de heterodoxia econômica, tanto dentro quanto fora do Brasil, muitas vezes ganha eco. Felizmente, com tantos fracassos na história econômica recente, esses discursos caem por si só, mas muitas vezes não sem antes fazer algum estrago (real ou mesmo ideológico), angariando alguns adeptos que propagam um besteirol sem fim e “contaminando” as redes sociais com um festival de bobagens vazias.
No Brasil, o “Lulopetismo” teve seu espaço no período 2002-2014. Na verdade, o excesso de heterodoxia começou mesmo após 2006, finalizado o primeiro mandado do então presidente Lula, que até então estava seguindo ortodoxamente a política econômica herdada do governo FHC. Após um primeiro mandato “comportado” do ponto de vista econômico, abriu-se espaço para uma “revisão” do modelo a ser seguido para o próximo ciclo de governo (2006-2010), e a partir daí a coisa desandou. De maneira bem discreta começou a ganhar força um discurso que pregava a intensificação da participação do Estado na economia e da maior abrangência dos programas sociais (já com um forte viés eleitoral, sabendo que a eleição de 2010, sem Lula como candidato, somente seria ganha com a existência de uma bandeira pró-social muito forte). Confirmada a vitória de Dilma Rousseff em 2010, abriu-se então o panorama para o maior fracasso econômico da história brasileira, lembrando que o relativo sucesso econômico dos oito anos anteriores “credenciou” o PT a implementar suas próprias políticas, não mais ancorado na herança deixada por FHC. A partir daí o “Lulopetismo” e o excesso de heterodoxia econômica encontraram campo fértil. As famosas “pedaladas fiscais”, o intervencionismo estatal na definição das tarifas do setor elétrico, a política dos “campeões nacionais” e a crença no endividamento público infinito são apenas alguns dos exemplos de um período marcado pela quase completa falta de senso (para não dizer loucura). Era óbvio para qualquer leigo que em algum momento “a conta chegaria”. E chegou pesada.
Nos Estados Unidos, a mesma onda “alternativa” ganhou nome e sobrenome com a entrada de Donald Trump no governo e na subsequente implementação de um modelo econômico que vem sendo chamado de “Trumponomics”, um conjunto de medidas exageradamente heterodoxas e sem qualquer base teórica ou estatística que sustente suas premissas e seus desdobramentos. Um dos pilares dessa política econômica é uma forte agenda contra o livre-comércio (um Republicano que advoga contra o livre-comércio é tão sem sentido quanto um comunista que apóia a livre iniciativa e o empreendedorismo). Outro pilar desse pacote de políticas é o forte apreço pelo rápido e robusto crescimento econômico na casa dos 5% (agora já se aceita o patamar de 3%, não menos ambicioso). Ora, parece ser heterodoxo demais acreditar num crescimento dessa envergadura num ambiente de restrições comerciais (NAFTA, Acordo Transpacífico, entre outros). O terceiro pilar, desregulamentação e corte de impostos, sem dúvida é importante, porém desde que seja feito com critério. Do contrário, criam-se distorções e excesso de liberdade em setores que precisam de algum nível de regulamentação, como exemplo meio-ambiente. O quarto elemento, investimento governamental em infraestrutura, também é altamente desejável, mas parece carecer de sustentação num ambiente de corte na receita fiscal do governo, ou seja, mais uma das incoerências do pacote. Por fim, a reforma nas regras de imigração promete “devolver” ao hemisfério sul uma população ilegal de “bad hombres” e dificultar a entrada de imigrantes de diversos países, independentemente do nível de qualificação dos mesmos. Mas e os setores que dependem dessa mão-de-obra? Grandes impactados certamente serão os empregadores do Vale do Silício (demandantes de trabalhadores altamente qualificados) e também os estados agrícolas que compõe o “yellow-belt”, hoje preocupados com a potencial escassez de trabalhadores caso as medidas que facilitam o processo de deportação sejam efetivamente implementadas. “Trumponomics”, como discurso eleitoral, é altamente sedutor (“Make America Great Again”). Entretanto, na prática, haverá o risco de aceleração do processo de automação que ameaçará os mesmos empregos industriais que Trump promete proteger.
Política econômica é algo sério. Um erro em política econômica, seja por um diagnóstico incorreto ou pela escolha dos “remédios” incorretos, custa uma década do desenvolvimento de uma nação. Tudo é possível no perigoso campo das idéias. Mais teoria. Menos ideologia.
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