Já perceberam como é cada vez mais difícil assistir a um filme no cinema? Fui ver Harry Poter com meus filhos. Como comprei pela Internet, a entrada foi tranquila, fora o roubo pelo preço da pipoca e da água. Mas isso era uma opção.
Já sentados, atrás de nós, um casal abriu um saco de lanchonete e sacou hambúrgueres e batatas fritas, o que impregnou a sala de cheiro insuportável. Vai passar, pensei. É só rezar para que, quando o filme começar, a comilança tenha chegado ao fim.
Quando o casal se fartou e estalava a língua para limpar os dentes, um rapaz sentou-se ao lado com um balde de pipocas e um tonel de refrigerante e, enquanto comia e bebia, comentava com a namorada, alto, cada cena do filme.
Estamos perdendo a cerimônia em público. Cerimônia é a qualidade de se constranger e saber como se comportar de modo a não incomodar os outros. Mas parece que a regra é não ter constrangimento.
Tudo parece permitido e o que interessa é estar como se estivéssemos em casa. Isso é falta de educação. E o pior é que quem se incomoda passa a ser o desagradável, o constrangedor da liberdade.
É como o cara honesto que vira estorvo para a bandalheira. É a inversão dos valores. A perniciosa mistura do que é público e privado nas mais altas esferas da república também tem sua versão comezinha, na sala de um cinema ou nos teatros, onde o celular é sacado sem nenhuma cerimônia.
Não tenho nenhum falso pudor politicamente correto em afirmar que é preciso constranger as pessoas a se comportarem com educação e proibir a vontade alheia quando ela obriga os outros a uma intimidade indesejável.
(O DIA – 23/07/2009)
Por isso parei de ir nos cinemas. Viva a pirataria! Se vou é só na primeira sessão, que geralmente está vazia.
Eu costumava reclamar desses malditos que ficam comentando o filme, mas tive que parar quando me disseram que EU é que estava sendo mal-educado.
Quis dizer “costumava reclamar COM esses malditos”.
Normalmente uma boa constrangida se torna eficaz se se mostrar confiante e cordial. Apliquei um procedimento em uma mulher certa vez em uma livraria. Era uma agente imobiliária que falava a plenos pulmões no celular sentada em uma poltrona da livraria com uma cesta de telefones no colo para os quais provavelmente iria ligar. Após ouvir uma de suas negociações e depois outra e depois outra, notei que um jovem ao meu lado sentado em uma cadeira se incomodava muito pois tentava se concentrar na leitura e outra mulher também olhava inconformada para a moça do telefone. Como os dois não se manifestaram resolvi eu mesmo, incomodado, ir até a mulher e lhe disse sorrindo como se estivesse brincando, “Oi, estamos em uma livraria, há um café ali do lado onde você poderia fazer suas ligações sem molestar os ouvidos de alguém por aqui.” COm eu sorrindo assim e de bom humor ela não teve uma reação violenta e se passaria por mal educada ante todos se agisse energicamente. Nesses casos há de se manipular as dinâmicas sociais como melhor convir para evitar maiores problemas, ou se passar simplesmente pelo cara chato.
Abraços
Eu vivo dizendo “o certo virou o errado e o errado virou o certo”. Para mim tem sido cada vez mais desagradável me inserir nesses ambientes públicos como supermercados, cinemas , shoppings. As pessoas andam muito “à vontade” demais, muito ” em casa” demais.
Eu sou uma médica que anda em coletivos, hoje em dia temos que conviver com as músicas que tocam nos celulares, já me aconteceu algumas vezes de sofrer molestação auditiva com músicas funk com letras obscenas e ter que ficar com cara de paisagem pois a impressão que dava que o restante dos passageiros estava gostando da música. Se reclamamos corremos o risco de sermos agredidos verbal ou fisicamente.
Tristes tempos…