Iniciamos a semana em compasso de espera sobre o desfecho da greve dos caminhoneiros, já no oitavo dia. Segundo eles, um desfecho só quando, de fato, o preço do diesel recuar nas bombas, conforme prometido pelo governo (R$ 0,43). Os mercados, refletindo este clima, operaram em forte queda. A bolsa de valores caiu forte (-4,5%, a 75.355 pontos) com o dólar em alta (+1,6%, a R$ 3,75). Nos EUA, pelo feriado do Memorial Day, não tivemos pregão.
Nossa percepção é de que o governo se mostrou inábil nas negociações, cedendo demais, sem conseguir grandes avanços, apenas sinais. A impressão que se tem é que quanto mais o governo cedeu, mais aumentou a “pressão” dos caminhoneiros, refletindo em “efeito demonstração” para outras categorias. A próxima greve (ou paralisação) está marcada para esta terça-feira, dos petroleiros, inclusive com algumas demandas absurdas, como acabar com a atual política de preços da Petrobras, demitir Pedro Parente e acabar com o programa de vendas de participações da empresa.
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Em paralelo a isso, tem-se o desconforto fiscal com as demandas atendidas, como a redução do preço do diesel e seu congelamento por 60 dias. Estimam-se as perdas em torno de R$ 9,5 bilhões e o governo deve buscar compensações, talvez o aumento da carga fiscal. Segundo o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, “para os R$ 9,5 bilhões (custo até o fim do ano) devemos usar a margem e cortar despesas”. Explicou ele, ainda, que as medidas não entram na conta do teto de gastos, por serem extraordinárias.
Sobre o impacto na economia real, as perdas devem passar de R$ 25 bilhões neste ano, o que afetará o crescimento do PIB no segundo trimestre e no ano. Já são muitas as casas revendo suas projeções de PIB, neste ano, de 2,5% para menos de 2%. Nós aguardaremos o PIB do primeiro trimestre e o desfecho da greve para ter um olhar mais amplo sobre estas perdas.
Importante recordar, nesta confusão toda, que a política de preços da Petrobras teve apoio unânime quando implantada entre outubro de 2016 e abril de 2017. Nesta ocasião, foram definidos os reajustes diários nos preços, de acordo com o mercado internacional de petróleo. Agora, a política passa por uma grande provação, com poucos apoios. Segundo ex-presidente da empresa petroleira, Henri Philipe Reichstul, uma alternativa seria “manter a liberdade da empresa de seguir a cotação do mercado internacional, mas com uma estrutura tributária similar à Cide, suavizando as altas abruptas nos preços na bomba”.
Sobre a agenda da semana, mesmo com a crise dos caminhoneiros no centro das atenções, temos alguns indicadores que devem ser destacados. Lembremos que esta semana será mais curta em função do feriado na quinta-feira do Corpus Christi.
No Brasil, em destaque, a divulgação do PIB do primeiro trimestre na quarta-feira. Seguem as revisões para baixo do indicador, devendo vir abaixo de 0,5%, contra o trimestre anterior. Teremos ainda nesta terça-feira a PNAD Contínua e o IGP-M de maio. A primeira deve vir em suave piora, com o desemprego em torno de 13% a 13,5% da PEA, e o segundo, mais próximo de 1,2% ao mês. Estejamos atentos também aos dados fiscais de abril.
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No exterior, o dia foi de pouca volatilidade nos mercados devido ao feriado do Memorial Day, esvaziando a agenda econômica e reduzindo a liquidez dos mercados. Um destaque negativo foi a Bolsa de Milão, operando em forte queda depois da renúncia do Primeiro-Ministro Giuseppe Conte, por ter falhado na formação do governo de coalizão, mais um fato na crise política italiana. A eleição italiana foi realizada no início de março. Na agenda, ponto alto será a divulgação do relatório de emprego norte-americano na sexta-feira. Antes, porém, na quarta-feira, temos a segunda leitura do PIB dos Estados Unidos no primeiro trimestre.
Estejamos atentos também aos dados de geração de postos de trabalho nos EUA (na sexta-feira) e o Índice de PMI da China (na quarta-feira). A economia norte-americana deve continuar em bom ritmo na criação de vagas (payroll, perto de 200 mil), com a taxa de desemprego a 3,9% da PEA. Também no último dia da semana serão divulgados os resultados finais dos PMIs de maio da Alemanha, Reino Unido e Zona do Euro.