Um dos aspectos que chama atenção na eleição francesa é o candidato favorito Emmanuel Macron apresentar-se como um “social liberal”, sendo já classificado, diante de opções de extrema-direita e de extrema-esquerda, como centrista. Mas o programa de Macron é um mix de centro-direita (na ordem econômica) com centro-esquerda (na visão social).
O seu posicionamento como social-liberal traz outras nuances importantes em um tempo de busca de fórmulas de renovação institucional: a tentativa de conciliar uma agenda que não é radicalmente liberal, mas é pró-mercado e “liberalizante”, que traz a necessidade de reforma institucional, principalmente do Estado francês e de renovação do sistema, ao mesmo tempo em que reconhece a necessidade de investimentos sociais e da presença direta ou regulatória do Estado em termos de política social e questões como o emprego dos jovens. Macron traz, em seu programa, alguns itens importantes, como a transversalidade e uma visão abertamente integracionista na Europa e pró-globalização. Defende uma modernização institucional que torna o Estado socialmente mais ativo e eficiente, a partir de novas instituições e não apenas menos intervencionista. É importante lembrar que na França o setor público corresponde a 56% do PIB, existe um diagnóstico claro da necessidade de se reformar o sistema público e previdenciário, mas há uma polêmica no modo de fazê-lo.
Na prática, o candidato apresenta um programa mais ao centro — pelo seu componente social e de preocupação com as minorias — do que era a proposta de centro-direita dos republicanos, partido de Fillon, mas muito mais pró-negócios, integração e globalização do que o de Le Pen, que é, por natureza, protecionista e conservador na função do Estado.
É um posicionamento bastante novo para um candidato majoritário, e nunca tentado de verdade no Brasil. José Guilherme Merquior havia escrito para o suposto governo Collor um programa “social-liberal”, que não foi incorporado.
O social liberalismo traz um componente interessante para o Brasil neste momento: reconhece que não é possível ao País abandonar a agenda social, e sim reformar a forma como é feito esse gasto ou investimento social. Ou seja, não coloca “liberal” e “conservador” na mesma vertente. Muito pelo contrário. Entende que a reforma institucional e redução do tamanho do Estado deve ser feita de forma gradual, através de um programa liberalizante, e não dentro de uma fórmula “Thatcher”, que está, inclusive, ultrapassada.
Que a provável vitória de Macron mostre ao mundo a viabilidade de um programa social liberal, e que os seus princípios de reforma institucional possam pautar o debate da eleição presidencial de 2018, e eventualmente ser adaptados e seguidos com o equilíbrio e profundidade que um País complexo e diverso como o nosso exige.
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