O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta quinta-feira que os altos gastos para combater a covid-19 exigirão reformas ainda maiores no futuro. Segundo ele, “parece real” a necessidade de novas mudanças na Previdência Social e na administração pública, área em que uma reforma deveria atingir os atuais servidores, não apenas dos futuros.
Maia presidia audiência pública no plenário da Câmara sobre o retorno da atividade econômica após o período de isolamento social, com participação do economista Armínio Fraga, a presidente da Fundação Oswaldo Cruz, Nísia Trindade Lima, e o diretor-geral do Hospital Sírio-Libanês, Paulo Chapchap. O deputado afirmou que era um crítico do Sistema Único de Saúde (SUS), mas percebeu sua importância durante a pandemia. Para ele, isso reforça a necessidade de se debater a melhor aplicação do gasto público, uma vez que os serviços de saúde e educação são sempre criticados pela população.
“Armínio falou na necessidade, talvez, de revisitar a questão previdenciária. Parece real. E também a necessidade de que a reforma administrativa não trate apenas dos novos funcionários”, disse Maia. “Com 100% de endividamento [público] em relação ao PIB [Produto Interno Bruto], as reformas vão precisar ter outro tamanho, não apenas sobre economia, mas também a qualidade dos gastos públicos”, completou.
Últimas notícias
Com pandemia, governo prevê queda de 4,7% no PIB em 2020
Senado aprova MP que libera quase R$ 9 bilhões para combate à covid-19
Startup leva teste de coronavírus para empresas
O Congresso aprovou, no ano passado, uma reforma da Previdência Social que representaria um alívio de R$ 800 bilhões nas contas públicas ao longo de dez anos. A proposta de reforma administrativa não chegou a ser formulada pelo governo federal, mas, por orientação do presidente Jair Bolsonaro, trataria apenas dos novos
funcionários públicos.
Ao presidir a audiência pública, Maia buscou se diferenciar de Bolsonaro, afirmando que aquele debate era essencial por discutir a crise “de forma técnica respeitando a ciência”, sem pensar em encerrar o isolamento social. As atuais medidas restritivas, alvo de críticas do presidente, foram defendidas por todos os debatedores como
única alternativa viável para reduzir o número de mortes.
Maia criticou a falta de organização do governo federal para coordenar um plano junto com Estados e municípios e afirmou que há pressão de empresários para a reabertura das atividades econômicas, mas que a prioridade é defender a vida dos brasileiros.
“Não é possível que a gente estimule o fim do isolamento enquanto apenas a elite brasileira poderá ficar isolada, enquanto os brasileiros mais simples vão para os ônibus, nos seus trabalhos, em aglomerações”, disse o deputado. De acordo com ele, “as comunidades não tem nenhuma capacidade de isolamento e a gente não vê nenhum protocolo, nada organizado de forma estrutural na relação do governo federal com Estados e municípios”.
O presidente da Câmara ainda afirmou que falta testar adequadamente a população para controlar o vírus e se disse preocupado com um mapa apresentado pela presidente da Fundação Oswaldo Cruz que mostra que a covid-19 atingirá todas as regiões e todas as cidades. “Isso preocupa porque as UTIs [Unidades de Terapia Intensiva] estão concentradas nas grandes cidades. Um amigo meu que é médico disse que as cidades sem UTIs deveriam fazer isolamento radical, todas elas, para evitar uma tragédia”, comentou.
Fonte: “Valor Econômico”