O ministro da Economia mostrou habilidade em desmontar o imbróglio criado pelo presidente Jair Bolsonaro quando determinou a suspensão do aumento do diesel. Por mais engenhosas, todavia, que tenham sido as explicações de diferentes autoridades, ficou a impressão de que o presidente agiu por impulso e movido por seus instintos intervencionistas. Novos fatos como esse não podem ser descartáveis.
Seja como for, o risco de greve dos caminhoneiros permanece, pois estão mantidas as condições que os estimulam a jogar com a ameaça. Eles são vítimas de erros de política econômica dos governos do PT. De um lado, a oferta de fretes foi substancialmente ampliada por um programa de crédito subsidiado do BNDES, que despejou R$ 10,5 bilhões para financiar a compra de caminhões. Antes restrita a caminhoneiros autônomos e empresas de transporte, a compra de caminhões explodiu. A generosidade do programa – empréstimos a juros de apenas 4% ao ano – atraiu o interesse de outras categorias como a dos profissionais liberais, que passaram a participar da oferta de fretes. De outro lado, a recessão provocada pela política econômica desastrosa de Dilma Rousseff acarretou a contratação da demanda de transporte.
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Essa conjugação perversa acarretou a queda do valor dos fretes. Os caminhoneiros passaram a viver uma situação em que, além de endividados, enfrentam uma redução de renda, que em muitos casos os leva a ter prejuízos. Por tudo isso, demandam uma intervenção do governo, isto é, uma tabela de fretes que lhes garanta um piso de renda e os liberte do fantasma de falência em suas atividades.
Não há solução ótima para essa questão. Se ceder à pressão dos caminhoneiros, o governo viola a visão liberal do Ministério da Economia ao agir contrariamente às forças do mercado. A saída provocaria aumento de custos de transportes para muitos segmentos da economia, principalmente a do agronegócio. A bancada ruralista, que apoiou o presidente na campanha eleitoral, tende a se posicionar contra a tabela, como já o fez em outras oportunidades.
Se não ceder à pressão, o governo pode ter que enfrentar a calamidade de uma nova greve dos caminhoneiros, que pode agravar a já lenta recuperação da economia e do emprego. A legião de desempregados dificilmente sairá dos 13 milhões, podendo até aumentar, o que influenciará a popularidade do presidente.
O governo precisará reunir toda a inteligência possível em seus quadros para buscar uma saída que evite o pior efeito dessa situação, que será a greve. Será difícil, no entanto, encontrar uma solução sem danos. Espera-se que não sejam tão drásticos quanto o que aconteceu na paradeira de caminhões, em maio de 2018.
Fonte: “Veja”, 18/04/2019